"
Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada."

[...]
"Por outro lado, ele próprio não conseguia escapar à noção de velhice do seu tempo, o que tornava apenas natural ao ver Fermina Daza tropeçar à saída do cinema fosse abalado pelo raio pânico de que a puta da morte ia acabar ganhando sem remédio sua encarniçada guerra de amor."
[...]
"Mas sua vocação de gata errante, mas indômita que a própria força da sua ternura, manteve ambos condenados à infidelidade. Contudo, conseguiram ser amantes intermitentes durante quase trinta anos graças à sua divisa de mosqueteiros: infiéis, mas não desleais."
[...]
"Está dizendo isso a sério? – perguntou.
- Desde que nasci – disse Florentino Ariza – não disse uma única coisa que não fosse a sério.
O comandante olhou Fermina Daza e viu em suas pestanas os primeiros lampejos de um orvalho de inverno. Depois olhou Florentino Ariza, seu domínio invencível, seu amor impávido, e se assustou com a suspeita tardia de que é a vida, mais que a morte, a que não tem limites.
- E até quando acredita o senhor que podemos continuar nesse ir e vir do caralho? – perguntou.
Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites.
- Toda a vida – disse."
Gabriel García Márquez, O Amor nos Tempos do Cólera
"(...) Quando José Arcadio Buendia percebeu que a peste tinha invadido a povoação, reuniu os chefes de família para explicar-lhes o que sabia sobre a doença da insônia, e estabeleceram medidas para impedir que o flagelo se alastrasse para as outras povoações do pantanal. Foi assim que se tiraram dos cabritos os sininhos que os árabes trocavam por papagaios, e se puseram na entrada do povoado, à disposição dos que desatendiam os conselhos e as súplicas dos sentinelas e que insistiam em visitar a aldeia. Todos os forasteiros que por aquele tempo percorriam as ruas de Macondo tinham que fazer soar o sininho para que os doentes soubessem que estavam sãos. Não se lhes permitia comer nem beber nada durante a sua estada, pois não havia dúvidas de que a doença só se transmitia pela boca, e todas as coisas de comer e de beber estavam contaminadas pela insônia. Desta forma, manteve-se a peste circunscrita ao perímetro do povoado. Tão eficaz foi a quarentena, que chegou o dia em que a situação de emergência passou a ser encarada como coisa natural e se organizou a vida de tal maneira que o trabalho retomou o seu ritmo e ninguém voltou a se preocupar com o inútil costume de dormir.

Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão
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