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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

VIRTUDES CÍVICAS E REALPOLITIK


Niccolò Macchiavelli

"A virtude pagã de Maquiavel é uma virtude pública, ao passo que a virtude judaico-cristã é, em geral, uma virtude mais privada. Um exemplo famoso de boa virtude pública e de virtude privada inadequada pode ser o do presidente Franklin Delano Roosevelt e suas nocivas fugas da verdade para fazer com que um Congresso isolacionista aprovasse a Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) de 1941, que permitia o empréstimo e arrendamento de materiais bélicos para os países aliados durante a Segunda Guerra Mundial. 'Na verdade', escreve o dramaturgo norte-americano Arthur Miller sobre Roosevelt, 'a humanidade está em dívida com suas mentiras'. Em seu Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Maquiavel aprova a fraude quando ela é necessária ao bem-estar da pólis. Essa não é uma ideia nova ou cínica: Sun-Tzu escreque a política e guerra constituem 'a arte de enganar', a qual, se praticada com sabedoria, pode levar à vitória e à redução de baixas. O fato de esse preceito ser perigoso e facilmente manipulável não o despoja de suas aplicações positivas.

O cardeal Richelieu, pai da raison d'etat

"A característica que define o realismo é que as relações internacionais são governandas por princípios morais diferentes dos princípios de política interna - uma noção justificada pelas obras de Tucídides, Maquiavel, Hobbes, Churchill e outros. A necessidade de tal distinção foi enfatizada pelo nascimento do capitalismo moderno; o ímpeto pelo raison d'etat de Richelieu. O que é, afinal, o capitalismo moderno senão a raison d'économie? O racionalismo exigido para gerenciar as complexas operações econômicas do Estado francês burocratizado, que surgiu no início do século XVII, foi suplantando gradualmente a arbitrariedade individual dos barões feudais, propiciando o contexto ao pragmatismo de Richelieu em questões externas. George Kennan observa que a moralidade privada não é um critério para julgar o comportamento de Estados ou para comparar um Estado ao outro. 'Aqui, precisamos permitir que outros critérios, mais amargos, mais limitados, mais práticos, prevaleçam'. O historiador Arthur Schlesinger Jr. avisa que quando se trata de questões externas, a moralidade não está em 'alardear valores morais absolutos', mas na 'premissa de que outros países possuem suas próprias tradições,interesses, valores e direitos legítimos'.

O historiador grego Tucídides

"Reconhecendo que o bem e o mal em geral são dicotomias falsas quando se trata de Estados, Raymond Aron escreveu (mais uma vez ecoando Tucídides e Sun-Tzu) que a crítica ao idealismo 'não é apenas pragmática, mas também moral', porque 'a diplomacia idealista quase sempre escorrega para o fanatismo... Na verdade, a aceitação de um mundo governado pela noção pagã do interesse próprio, exemplificada por Tucídides, garante mais chances de sucesso à arte de governar: ele abrevia ilusões e reduz o espaço para erros de cálculo. O liberalismo fundamentado na história reconhece que a liberdade não surgiu de uma reflexão ou moral abstrata, ou de qualquer outra forma, mas das difíceis opções políticas feitas por governantes que agiam em seu próprio interesse. Conforme observa o clássico historiador dinamarquês David Gress, a liberdade surgiu no Ocidente principalmente porque servia ao interesse do poder." 

Robert D. Kaplan, Warrior politics: why leadership demands a pagan ethos  

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