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segunda-feira, 23 de julho de 2012

MEMÓRIA E ESQUECIMENTO I


O ex-ditador da Argentina, general Jorge Rafael Videla, cumprindo pena de prisão perpétua por crimes contra a humanidade, revelou que autoridades da Igreja Católica não só sabiam do destino dos desaparecidos políticos do país como assessoravam os militares no “trabalho” com as famílias. Videla disse que falou sobre o assunto com diversas autoridades eclesiásticas, entre elas o então núncio apostólico Pio Laghi e o cardeal-primaz Raúl Primatesta. A Igreja Católica argentina sempre se caracterizou por sua herança ultramontana e por posturas políticas arqui reacionárias.  

“Conversamos muito com eles. Era uma situação muito dolorosa e eles nos assessoravam sobe a melhor maneira de lidar com o assunto”, disse Videla à revista El Sur. “A Igreja ofereceu seus bons préstimos e, aos familiares sobre os quais havia a certeza de que não fariam uso político da informação, foi dito que não buscassem mais por seus filhos porque estavam mortos”. A canalhice desses milicos argentinos não conhece limites. Mas ao menos esse calhorda – católico mui praticante – é coerente, não hipócrita como nossos assassinos de farda (Brilhante Ustra à frente).

O ex-ditador não só justificou as ações da repressão – feitos, aliás, com base num decreto de aniquilação assinado por Isabelita Perón antes do golpe de 1976! – como há pouco admitiu que a ditadura militar eliminou “entre sete e oito mil pessoas”. Quando perguntado se as torturas, assassinados, desaparecimentos, roubos de bebês e usurpações de propriedades faziam parte do plano de combate aos inimigos do regime, Videla classificou esses atos como atos da “baixeza humana”, fruto do grande poder desfrutado pelos militares na época.

A Argentina completou o ciclo: julgou e condenou os torturadores, o Exército assumiu os crimes e pediu desculpas à nação e agora o chefe do mais sangrento dos governos da ditadura admite a matança. Tudo isso não diminui a torpeza daquele regime facínora, mas toca na ferida da histórica incapacidade dos brasileiros para lidar de frente com as mazelas do país. Temos dificuldade em aprender o que disse o escritor tcheco Milan Kundera:"a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento". 

Este vídeo mostra que a mesma Igreja Católica que excomungou ou se recusou a dar comunhão a parlamentares que votaram a favor do aborto não via nenhum problema em acolher e dar comunhão a facínoras como Franco, Videla e Pinochet.



           

Um comentário:

  1. Um bom texto de combate! Continue, a verdade é sempre revolucionária! Rita e Heladio

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