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quinta-feira, 5 de julho de 2012

A GEOPOLÍTICA PRIMÁRIA DOS NEOCONS


Tropas americanas ocupam o Iraque

A gente sabia que a política externa dos neocons de George W. Bush, particularmente em relação ao Oriente Médio, tinha se revelado desastrosa aos interesses estratégicos de longo prazo dos Estados Unidos. O erro mais crasso, talvez, tenha sido a política de “empoderamento” dos xiitas no Iraque, o que acabou fortalecendo a influência do Irã na região. Agora, o Pentágono tem que inventar pretextos para justificar as ameaças de intervenção ou de ataques “cirúrgicos” ao país persa. 


Também sabíamos que um dos vetores da invasão do Iraque em 2003 era o controle do petróleo do país. O que não sabíamos era o quanto esse último objetivo obliterou qualquer estratégia mais sofisticada para a região. Poucas vezes um Estado foi tão reduzido ao papel de mero “comitê executivo da burguesia” (no caso, das multinacionais de petróleo) como neste caso. Esse texto do Azenha resume bem a ópera (bufa?).     


E agora vamos ao que realmente interessa
Por Luiz Carlos Azenha

Ler Fuel on the Fire: Oil and Politics in Ocuppied Iraq [Combustível na fogueira: Petróleo e Política no Iraque Ocupado], de Greg Muttitt, apenas confirma o que a gente já sabia. Através de documentos e entrevistas com os principais atores — norte-americanos, britânicos e iraquianos — o autor revela os bastidores da luta pelo controle do petróleo iraquiano depois da invasão de 2002.

Em Crude Awakening, de Ben van Heuvelen,na Foreign Affairs, a gente se dá conta de que tudo pode ter dado errado na guerra movida por George W. Bush. Inclusive a consequência indesejada de promover maior — e não menor — influência do Irã na região. Nada que uma nova guerra, desta vez contra Teerã, não resolva. Mas uma coisa não deu errado na estratégia dos neocons: a indústria iraquiana de petróleo, antes controlada de forma centralizada por Saddam Hussein e o partido nacionalista Baath, foi rachada.

As grandes companhias internacionais de petróleo agora podem jogar o Curdistão [que, na prática, assumiu controle de suas próprias reservas] contra Bagdá e vice-versa. Se não tinham nenhuma chance com Saddam Hussein, agora as Exxons da vida podem ‘partilhar’ a riqueza dos iraquianos. E, através do acesso às reservas iraquianas, podem exercer pressão sobre o único país que, a longo prazo, pode disputar com a Arábia Saudita o controle da torneira que regula os preços internacionais. Do ponto-de-vista do grande consumidor do planeta, os Estados Unidos, não é pouca coisa.

Hoje as companhias estatais de petróleo controlam cerca de 80% das reservas. Pela força que exercem na economia local — vejam o caso da Petrobras, bem aqui no Brasil — acabam aglutinando em torno de si forças políticas nacionalistas.

O Irã, próximo alvo dos EUA e das empresas de petróleo?
O século 21 é o século da Ásia. Mas o novo motor do mundo, como escreveu certa vez a própria Foreign Affairs, tem o “tanque vazio”. China, Japão, Coreia e vários outros gigantes econômicos da região são importadores de petróleo. É de onde virá a demanda. Novas tecnologias — de águas profundas, de aproveitamento do petróleo extra-pesado e do xisto, através dos controversos processos de ‘fracking’ — podem adiar aquela história do peak oil, o pico de produção depois do qual as reservas entrariam em colapso, enterrando nossa civilização viciada em petróleo.

A ideia de que os maiores consumidores do mundo abririam mão do controle sobre os preços e as reservas é conto de fadas. Grosseiramente, o consumo de petróleo per capita dos Estados Unidos é de 25 barris por ano. O da China, segundo maior consumidor, é de 2 barris.

Demolir, onde possível, o marco regulatório imposto por empresas estatais (Iraque e, mais recentemente, Líbia), enfraquecê-las e ao nacionalismo que elas acabam financiando (Petrobras, Pemex, PDVSA), em último caso recorrendo à guerra ou aos golpes para ter acesso direto ou indireto aos recursos naturais (Irã, Venezuela, Bolívia, Equador) é a tônica deste século.

A globalização não mira o nacionalismo por conta da cor dos olhos de governos ‘populistas’. E a mídia corporativa tem lado nessa luta.

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