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quarta-feira, 25 de julho de 2012

A DIREITA QUE NÃO OUSA DIZER SEU NOME


Carlos Lacerda, o primeiro "liberal"?

É impressionante como os direitistas, no Brasil, seja na versão troglodita ou na versão pós-moderna, não conseguem assumir que são de direita. Eles se denominam liberais, libertários, democratas e o escambau, mas nunca se assumem como direitistas. Renegam a própria tradição, já que, no passado, expoentes dessa corrente política como Plínio Salgado, Gustavo Corção e Plínio Correa de Oliveira não tinham medo de se proclamar enquanto tais. Creio que Carlos Lacerda foi o primeiro vestir a pele de "democrata" – talvez pelo seu passado comunista.
Este trecho de um texto do Juremir Machado da Silva tenta identificar o pensamento conservador que se esconde sob o véu da neutralidade e da racionalidade.          


Dez maneiras de identificar um "lacerdinha":
Juremir Machado da Silva

1 – Um sujeito que, em nome da direita, diz que não há mais direita e esquerda, fazendo, em seguida, um discurso furioso, radical e fanático contra a esquerda que não existe.
2 – Um cara que, em defesa da sua ideologia, afirma que não existem mais ideologias e, na sequência, faz um discurso ideológico fanático contra o ideologismo de esquerda.
3 – Um sujeito que treme de fúria ideológica, chamando seus oponentes de burros, atrasados, imbecis, perigosos e radicais, em nome da neutralidade analítica.
4 – Um cara que, ao ouvir uma crítica a um ditador de direita, acha que haverá necessariamente a defesa de um ditador de esquerda.
Plínio Salgado (centro), pelo menos, assumia ser de direita 
5 – Uma figura que jamais criticou a Lei do Boi – cotas para filhos de fazendeiros em universidades públicas –, mas é contra cotas raciais e até sociais.
6 – Um tipo que defende a democracia, mas está disposto a apoiar ditaduras de direita se elas lhe trouxeram benefícios econômicos e silenciarem seus oponentes.
7 – Um “ponderado” analista, defensor do Estado mínimo, que exigirá um Estado máximo quando sua empresa estiver falindo ou precisando de um empréstimo a juros baixos.
8 – Um crítico ferrenho de políticas de compensação por falta de oportunidades equivalentes salvo quando, como produtor, exige compensações por se sentir sem condições equivalentes para competir, por exemplo, no mercado internacional.
9 – Um indivíduo que passa a vida classificando as pessoas em nós e eles, fanáticos e razoáveis, estúpidos e racionais, xiitas e ponderados, e, quando classificado de lacerdinha, faz longos discursos contra esse tipo de simplificação classificatória.
10 – O representante de grupos que sempre encontraram maneiras de obter benefícios a partir de casuísmos, leis de exceção, contingências mais ou menos justificadas, contextos sociais e históricos, mas que, quando seus oponentes se organizam para tirar-lhes privilégios ou reparar prejuízos históricos, transformam-se em defensores de princípios pretensamente racionais, abstratos e universais de concorrência.

Há outras maneiras de identificar um lacerdinha, mais práticas:
– Contra o golpismo de Chávez, mas a favor do golpe no Paraguai
– Contra cotas, aquecimento global, áreas de proteção permanente, pagamento de multas por destruição do meio ambiente, código florestal ambientalista, impostos sobre grandes fortunas, bolsa-família, Prouni e outras políticas ditas assistencialistas.
– A favor de incentivos fiscais para empresas multinacionais.
– Contra comissão da verdade e qualquer investigação que possa deixar mal os torturadores do regime militar brasileiro implantado em 1964.
Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho, Luiz Felipe Pondé e Álvaro Dias
– Contra a corrupção, especialmente se envolver políticos de esquerda, sem a mesma verve quando se trata de alguma corrupto de direita.
– Sempre pronto a chamar de petista quem lhe pisar nos calcanhares.
– Estrategicamente convencido de que a corrupção no Brasil foi inventada pela esquerda.
– A favor da universidade pública para os melhores, desde que o sistema não se alterne e os melhores continuem sendo majoritariamente os filhos dos mais ricos e com melhores condições de preparação e de ganhar uma corrida pretensamente objetiva e neutra.
– A favor, quando se fala em cotas, de melhorar o nível do ensino básico e de ampliar as vagas para evitar políticas discriminatórias, esquecendo das tais melhorias assim que o assunto sai da pauta da mídia ou é superado por alguma final de campeonato.
– Defensor da ideia de que, na vida, é cada um por si, salvo se houver quebra de safra, redução nos lucros, crise econômica internacional ou qualquer prejuízo maior. Nesses casos, o Estado deixa de ser tentacular, abstrato e opressor para ser uma associação de pessoas em favor dos interesses da sociedade na sua totalidade.

2 comentários:

  1. Só para ilustrar o item 5 acima (Lei do Boi, de 1968 a 1985): Art. 1º Os estabelecimentos de ensino médio agrícola e as escolas superiores de Agricultura e Veterinária, mantidos pela União, reservarão, anualmente, de preferência, de 50% (cinqüenta por cento) de suas vagas a candidatos agricultores ou filhos dêstes, proprietários ou não de terras, que residam com suas famílias na zona rural e 30% (trinta por cento) a agricultores ou filhos dêstes, proprietários ou não de terras, que residam em cidades ou vilas que não possuam estabelecimentos de ensino médio.

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  2. Caro Adinaldo de Souza, tens toda a razão.Parte das elites brasileiras so admitem cotas desde que os beneficiários sejam seus proprios pares. Impõem enormes resistencia a este proecimento justo de inclusão social, quando os beneficiarios sao especialmente pobres e negros. Se valem da estrutura economica montada exclusivamente a seu favor para posarem de bons moços quando sao na verdade maus brasileiros, pois que advogam a manutenção da pobreza e da ignorancia como forma de manterem seus seculares privilegios. Como bem assinala o articulista, se envergonham de se autodeclararem de direita, porem nao se envergonham se serem agentes de parte dessas elites preconceituosas e excludente.

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