Albino Luciani, o papa João Paulo I |
Veja-se o caso de João Paulo
I (Albino Luciano), o “papa sorriso”, cujo pontificado durou apenas 33 dias. Eleito
em 26 de agosto
de 1978 , 20 dias depois da morte de Paulo VI, o novo pontífice de
cara recusou a cerimônia formal de coroação, abdicando da tiara (coroa
pontificial). Jovem para os padrões do Vaticano (tinha 64 anos), ele se mostrou
disposto a fazer mudanças profundas no funcionamento da Santa Sé. Luciani teria
dito a assessores próximos que iria rever a estrutura da Cúria, reforçando a
colegialidade dos bispos, e investigar o Instituto para Obras Religiosas (IOR),
principal financiador do Banco Ambrosiano, e que se envolveu em atividades com
a máfia e a loja maçônica P-2 (Propaganda
Due), de Lício Gelli.
O arcebispo Marcinkus e seu protetor, João Paulo II |
Para tanto, o papa tinha que
afastar o poderoso cardeal Paul Marcinkus, presidente do IOR, conhecido pela
alcunha de “banqueiro de Deus”. O envolvimento da máfia e da P-2 nas finanças
do IOR, via Banco Ambrosiano, transformou-se numa rede de intrigas, com ações
fraudulentas e ilegais e assassinatos. Entre essas ações do Ambrosiano estavam
o financiamento de partidos políticos conservadores na Itália e de rebeldes
antissandinistas da Nicarágua e do sindicato polonês Solidariedade. O papa também
teria uma lista, elaborada pelo jornalista Mino Pecorelli, membro arrependido
da P-2, que vinculava o secretário de Estado do Vaticano, Jean Villot, e o
cardeal Marcinkus, à loja maçônica de Lício Gelli. Mino Pecorelli foi
assassinado em 1979, Roberto Calvi, presidente do Ambrosiano, seria encontrado
enforcado numa ponte em Londres em 1982 e o banco iria à falência naquele mesmo
ano.
O banqueiro Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano |
No dia 29 de setembro de 1978 , João
Paulo I foi encontrado morto em seu quarto. Segundo o Vaticano, a causa da
morte teria sido um infarto agudo no miocárdio. Havia a suspeita de que o papa
tinha tomado, inadvertidamente, um vasodilatador, mas o Vaticano se negou a
autorizar uma autópsia do corpo. E as contradições começaram a se acumular: a
Santa Sé afirmou que o pontífice tinha uma saúde frágil e debilitada, o que
posteriormente seria desmentido pelo seu médico, dr. Antonio Da Ros, e pelo
secretário de Luciani, Diego Lorenzo; o corpo do papa não foi encontrado pelo bispo
John Magge, como afirmara a nota do Vaticano, mas pela irmã Vicenza Taffarel,
que foi proibida pela Cúria de contar a verdade. É claro que, com tantos mistérios,
várias teorias conspiratórias ganharam corpo. A principal foi elaborada pelo
jornalista David Yallop, que escreveu um livro (Em nome de Deus) em que afirmava categoricamente que João Paulo I tinha
sido assassinado pela Cúria.
Em relação à
morte do papa, o cardeal brasileiro Aloísio Lorscheider teve a coragem de declarar:
“As suspeitas continuam no
nosso coração como uma sombra amarga, como uma pergunta à qual não foi dada
resposta”. Mesmo depois de tanto tempo, o Vaticano ainda silencia sobre a
morte de João Paulo I. O fato é que um novo Conclave elegeu como papa o polonês Karol
Wojtyla. Este, em um gesto de aparente homenagem ao antecessor, adotou o nome
de João Paulo II. Por outro lado, agiu firmemente no sentido de destruir a
obra do papa anterior, encerrando as investigações sobre o Ambrosiano, mantendo
intactas as estruturas eclesiásticas da cúpula do Vaticano e protegendo o
arcebispo Paul Marcinkus, mesmo quando a Justiça americana mandou prendê-lo.
Não é preciso ser adepto de
teorias conspiratórias, como David Yallop, nem tampouco ficcionista, como Dan
Brown, para supor que a morte de João Paulo I não foi de causas naturais como o
Vaticano quer fazer crer. Se algum dia, por algum milagre, abrirem os arquivos do
Vaticano, saberemos...
Nenhum comentário:
Postar um comentário