La cità che sale (1910), de Umberto Boccioni |
Outro pensador pouco citado, mas um analista arguto
do mal-estar ocidental, George Steiner (1929), que, há mais de 40 anos,
escreveu O Castelo do Barba Azul. Trechos do livro:
“O colapso das esperanças
revolucionárias após 1815, a
brutal desaceleração do tempo e das expectativas radicais deixaram um
reservatório de energias turbulentas, não realizadas. A geração romântica tinha
inveja de seus pais. Os “anti-heróis”, os dândis assolados pelo spleen (melancolia) no mundo de Sthendal, Musset, Byron e
Púshkin movimentam-se pela cidade burguesa como condottieri desempregados. Ou, pior, como condottieri aposentados antes da primeira batalha, com uma
pensão miserável. Mais ainda, a própria cidade, outrora festiva com os
sinos da revolução, tinha-se tornado uma prisão.
“A conjunção do extermo dinamismo técnico-econômico com larga medida de imobilismo social imposto, conjunção sobre a qual foi construído um século de civilização liberal burguesa, preparou uma mistura explosiva. Provocou na vida da arte e da inteligência certas respostas específicas e, no fim das contas, destrutivas. Estas, segundo me parece, constituem o significado do romantismo. É a partir delas que crescerá a nostalgia pelo desastre.
" [...] a descrição que Freud faz (em O mal-estar da civilização) das tensões que as maneiras civilizadas impõem aos instintos humanos centrais e não realizados continua válida. Assim como as insinuações, abundantes na literatura psicanalítica (que é, por si mesma, pós-darwiniana), de que há nas interrelações humanas uma inelutável pulsão à guerra, a uma afirmação suprema da identidade à custa da destruição mútua [...].
“[...] por volta de 1900, havia uma propensão
terrível, uma sede mesmo, por aquilo que Yeats viria a chamar ‘maré turva de
sangue’. Exteriormente serena e brilhante, La BelleÉpoque estava demasiado madura, de um modo
ameaçador. Sob a superfície do jardim, compulsões anárquicas estavam chegando a
um ponto crítico. Notem-se as
imagens proféticas de perigo subterrâneo, de influências destrutivas prontas a
levantar-se dos esgotos e dos porões que atormentavam a imaginação literária desde o tempo de Poe e do Les misérables até o Princess Casamassima de Henry
James. A corrida armamentista e a crescente febre do nacionalismo europeu eram,
acho, apenas sintomas desse mal-estar intrínseco. O intelecto e o sentimento foram,
literalmente, fascinados pela perspectiva de um fogo purificador."
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