O Concílio Cadavério (1870), de Jean-Paul Laurens |
Não foi só no tempo dos
Bórgias que o Vaticano foi uma esbórnia. No final do ano da graça de 896, o
papa Estevão VI ordenou a exumação do cadáver do papa Formoso, morto nove meses
antes, para julgá-lo perante um Concílio que passou à história como Sínodo
Cadavérico ou Sínodo do Terror. O pontífice morto e mumificado foi vestido com
as vestes papais e colocado no trono para ser julgado pelos bispos. A principal
acusação era a de ter abandonado a diocese do Porto, em Portugal, para ocupar o
trono de São Pedro. Na verdade, o julgamento ocorreu por determinação de
Lamberto de Spoleto, rei da Itália e imperador do Sacro Império Romano
Germânico, que havia sido deposto pelo rei alemão Arnulfo, com o apoio de
Formoso.
Formoso foi declarado culpado
e sua eleição como papa, anulada, bem como todos os seus atos pontifícios. Seu
cadáver foi despojado das vestimentas sacras e lhe arrancaram os três dedos com
os quais dava as bênçãos. Seu corpo foi reenterrado secretamente.
Anos depois, Formoso foi reabilitado e seu restos mortais foram restituídos à
Basílica de São Pedro. Mas, em 904, o papa Sérgio III anulou a reabilitação e
ordenou um novo julgamento de Formoso, que foi novamente declarado culpado.
Desta vez, os despojos foram jogados no rio Tibre. Em 1464, o cardeal
Pietro Barbo, ao ser eleito papa, foi dissuadido de usar o nome de Formoso II;
ficou sendo o papa Paulo II.
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