A Sociedade Interamericana de
Imprensa (SIP) é mestre em manipular conceitos, confundindo o direito à
liberdade de expressão com a defesa do monopólio de grandes grupos privados de
mídia. Por isso, elegeram como alvo de seus ataques governos que ou entraram em
choque aberto com a grande mídia ou propuseram leis que controlassem a
“propriedade cruzada”, como a demonizada – pelos barões da mídia – “Ley de Médios”
argentina. Mas a SIP não consegue mais disfarçar sua agenda conservadora, nem seu passado reacionário,
de apoiadora de golpes contra governos progressistas ou simplesmente que
contrariavam interesses norte-americanos.
Boas
razões para a presidente Dilma não ter ido à SIP
Por
Breno Altman, no Operamundi
O
dirigente do Grupo Estado, Júlio César Mesquita, não escondeu sua frustração.
Diante da cadeira vazia na cerimônia de abertura da 68ª Assembleia da Sociedade
Interamericana de Imprensa, comparou a atitude da atual presidente a de seus
antecessores, Ernesto Geisel e Fernando Collor, nos dois convescotes da
agremiação anteriormente por aqui realizados.
A comparação pode ser estapafúrdia, mas o rancor tem sua razão de ser. As famílias que controlam os meios de comunicação na região, sem aliados importantes além dos Estados Unidos, ambicionavam aval implícito de Dilma Rousseff para sua ofensiva contra políticas de democratização e regulação levadas a cabo por diversos governos progressistas.
Apesar de sua administração manter intactos os privilégios dos monopólios de imprensa, a presidente pode ter sido eloquente ao dar silencioso bolo no evento dos marajás da informação. Como não foram tornados públicos os motivos dessa decisão, é natural que provoquem especulações. Uma abordagem possível remete à trajetória da associação. A SIP, afinal, congrega a fatia mais ativa e influente das elites continentais, com expressiva folha de serviços prestados às ditaduras.
Fundada nos EUA em
El Mercurio defendeu Pinochet |
A
lista é longa. O vetusto matutino da família Mesquita, O Estado de S.Paulo, também
foi adepto estridente das fileiras anticonstitucionais, clamando e aplaudindo,
em 1964, complô contra o presidente João Goulart. Mas não foi atitude
solitária: outras empresas brasileiras de comunicação, igualmente inscritas na
SIP, seguiram a mesma trilha.
Seus
feitos, porém, não fazem parte apenas da história. Estes veículos, mais
recentemente, apoiaram o golpe contra o presidente Hugo Chávez (2002), a
derrocada do hondurenho Manuel Zelaya (2009) e o afastamento ilegal do
paraguaio Fernando Lugo (2012). Funcionam, a bem da verdade, como uma aliança
intercontinental do conservadorismo.
Às
vésperas das eleições de 2010, em julho, o então presidente da SIP, Alejandro
Aguirre, afirmou que Lula “não poderia ser chamado de democrata” e o incluiu
entre os líderes que “se beneficiam de eleições livres para destruir as
instituições democráticas”. Seu objetivo era evidente: como porta-voz dos
barões da mídia, queria colaborar no esforço de guerra contra a condução de
Dilma Rousseff, pelo sufrágio popular, ao Palácio do Planalto.
Diante
deste inventário de símbolos e realizações, fez bem a presidente ao se recusar
a emprestar o prestígio de seu mandato e a honradez de sua biografia.
Ainda mais
em um momento no qual sócios nacionais da associação animam julgamento de
exceção contra dirigentes históricos de seu partido e integrantes de proa do
governo Lula.
Oxalá
esse gesto possa dar início a uma batalha firme pela democratização da imprensa
e a adoção de marco regulatório que rompa com o feudalismo midiático.
Breno Altman é
diretor do site Opera Mundi e da revista Samuel
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