O antropólogo francês René Girard |
Desde
a época de Getúlio Vargas, o discurso conservador é expressão daquilo que René
Girard chama de “rito sacrificial”: a individualização das mazelas políticas e
a consequente ideia de que, extirpando-se os “maus”, teremos a prevalência da
“boa política”. Os argumentos bramidos por Carlos Lacerda contra o “mar de
lama” de Vargas são os mesmos esgrimidos agora pela mídia conservadora contra os “mensaleiros”.
Nada
mais ingênuo do que esse discurso moralizante e purgativo. Como explica Girard,
toda sociedade em seus primórdios experimentou o evento de uma crise de
violência generalizada que ameaçava a sua própria existência. Essa crise só acabava com o sacrifício de uma vítima escolhida arbitrariamente, sobre a qual foram
despejados todos os ódios e desejos de vingança, restaurando-se a paz social e
fundando-se a própria sociedade politicamente organizada. Girard descobre a
descrição figurada parcial ou total da rivalidade mimética, da escalada de
violência e do sacrifício de vítimas expiatórias.
Ao
individualizar a corrupção e sem denunciar o sistema que a engendra, da qual é
beneficiária, a direita alimenta as ilusões das classes médias – velhas e novas
– com pendores “qualunquistas” e “poujadistas”.
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