Eram 19 horas daquela segunda-feira 22 de outubro de 1962 quando o presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, se dirigiu à nação num dramático discurso transmitido pela tevê. Com uma expressão grave, voz firme e calma, ele apresentou as provas de que a União Soviética estava instalando em Cuba mísseis de alcance médio (1.500 quilômetros) e intermediário (3 mil quilômetros) equipados com ogivas nucleares. Perante aquela ameaça à segurança dos EUA, Kennedy anunciou uma “quarentena” de todo equipamento militar destinado a Cuba e declarou que qualquer projétil disparado da ilha contra o território americano seria considerado como um ataque da URSS contra os EUA, passível de retaliação. Nunca, como antes – nem depois –, o mundo esteve tão próximo de uma hecatombe nuclear.
Apesar
de dramática, a decisão de Kennedy era a alternativa mais moderada, adotada
depois de dias de frenéticas discussões. Com a descoberta da existência dos
mísseis, em 14 de outubro, a Comissão Executiva do Conselho de Segurança
Nacional (ExCom), composta por presidente, vice, secretários da Justiça, da
Defesa, de Estado, políticos e chefes militares, reuniu-se secretamente para
discutir as alternativas. Grande parte dos militares e alguns civis defendiam
um ataque surpresa a Cuba para destruir as bases de mísseis. O secretário da
Defesa, Robert McNamara, e o secretário da Justiça, Robert Kennedy, foram os
mais firmes defensores do bloqueio naval. Segurando seus radicais, o presidente
definiu-se pela estratégia do bloqueio, tomando ainda o cuidado de denominá-la
“quarentena” porque, na linguagem diplomática, bloqueio tem o significado de
uma declaração de guerra.
No dia
26, enquanto as fotos das bases dos mísseis eram exibidas na ONU, o dirigente
soviético Nikita Kruchóv enviou uma carta a Kennedy afirmando que, se os EUA
dessem garantias de que não mais tentariam invadir Cuba para derrubar o regime
de Fidel, a URSS poderia retirar os artefatos. Mas, no dia seguinte, Moscou
transmitiu uma carta de Kruchóv na qual ele dizia que a URSS poderia retirar os
mísseis em troca da retirada das bases de mísseis americanos da Turquia. O
impasse foi resolvido por uma manobra brilhante de Robert Kennedy, que sugeriu
que a Casa Branca respondesse à primeira oferta e ignorasse a segunda. Se não
houvesse resposta, os EUA estavam prontos para atacar em 24 horas. No dia 28,
Kruchóv ordenou a retirada dos mísseis – aliás, à revelia dos dirigentes
cubanos.
Em 2002,
ex-integrantes do governo Kennedy como McNamara e Arthur Schlesinger Jr. estiveram
em Cuba participando de um debate sobre aqueles eventos. O habilidoso manejo
diplomático dessa crise mostra o quanto regrediu a qualidade dos ocupantes da
Casa Branca desde a época de Kennedy. Pode-se imaginar o sombrio destino que
estaria reservado aos terráqueos se o presidente fosse alguém do naipe de
George W. Bush e sua trupe de falcões belicosos como Dick Cheney e Donald
Rumsfeld.
E hoje, mesmo com Obama na Casa
Branca, o nível da diplomacia americana caiu muito, para dizer o mínimo. Como
lembrou o cientista político Graham Allison, costuma-se dizer que, com a questão
do Irã, o presidente americano “aproxima-se de uma encruzilhada: ou atacará as
instalações de Teerã para frear o programa ou aceitará a existência de um Irã
nuclear. Eram exatamente essas as opções que os assessores da Casa Branca deram
a Kennedy em 1962. O presidente, porém, rejeitou ambas – uma era pior que a
outra. Atacar Cuba levaria à 3ª Guerra Mundial e aquiescer faria Kruchóv tentar
algo ainda mais ousado. Nessas circusntâncias, Kennedy começou a buscar uma opção
‘menos terrível’ que aquelas duas. Ao olhar para a crise iraniana hoje, devemos
nos questionar se não há opções mais inteligentes do que a adotada atualmente
pelos EUA.”
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