Morto há 90 anos, Michael Collins (1890-1922) foi um dos
fundadores do IRA (Exército Republicano Irlandês) e depois o primeiro chefe de
Estado da Irlanda. Ele ficaria famoso por organizar um esquadrão especialmente
encarregado de eliminar policiais e militares britânicos na Irlanda; daí sua
fama de perigoso terrorista. Já o Blacks and Tans, a unidade de elite do Exército
Britânico que aterrorizava os irlandeses – como no Bloody Sunday, em 1920,
quando integrantes dessa tropa mataram 14 civis no Croke Park Stadium – jamais ganhou
este epíteto. Isso me faz lembrar uma frase de Noam Chomsky (estou citando
muito ele ultimamente): “quando alguém pratica o terrorismo contra nós ou
contra nossos aliados, isso é terrorismo; mas quando nós ou nossos aliados o
praticamos contra outros, talvez um terrorismo muito pior, isso não é
terrorismo; é antiterrorismo ou guerra justa”.
Mas o “terrorista” seria o representante dos irlandeses nas
negociações de paz com os britânicos em 1921. Foi então que Collins mostrou que
não era apenas um líder militar da guerrilha, mas tinha a dimensão política da luta. Sabia
que as negociações implicavam ter consciência da correlação de forças e da
necessidade de se fazer concessões. O Tratado Anglo-Irlandês foi oficialmente
assinado em 6 de dezembro de 1921 e criou o Estado Livre Irlandês, que seria o
primeiro passo para uma transição pacífica para a democracia e terminaria com
mais de 700 anos de ocupação britânica da ilha. O tratado permitia a criação de
um Estado que em tese compreendia toda a ilha, mas estava sujeito à aprovação dos seis
condados do Norte, conhecidos como Ustler, de maioria anglicana, que poderiam não
querer fazer parte do novo país, majoritariamente católico.
...e chefe de Estado da Irlanda |
O novo Estado seria ainda um domínio que, mesmo independente,
deveria fazer parte temporariamente da Commonwealth (Comunidade Britânica das
Nações), com a chefia de Estado nas mãos do monarca britânico. Mas o controle
de fato estaria nas mãos do governo irlandês eleito pela Dáil Éireann (Câmara
Baixa). Ainda que não fosse a República sonhada pelos irlandeses, era a “liberdade
para conquistar a liberdade”, nas palavras de Collins. Mas ele sabia que o
tratado, em especial a partição do território, não seria bem recebido no novo
país. “Eu assinei a minha própria sentença de morte”, disse ele ao assinar o
documento.
Dublin bombardeada durante a guerra civil de 1922 |
Estourou então a guerra civil, com combates irrompendo por toda Dublin entre rebeldes do IRA anti-Tratado e as tropas do Governo Provisório. Sob o comando de Collins, as forças do Estado Livre rapidamente reassumiram o controle da capital. Mas Collins seria morto a tiros em Cork numa emboscada preparada por rebeldes, em 22 de agosto de 1922. Sua morte comoveu a Irlanda e consolidou o novo país.
Michael Collins inspirou outros combatentes nacionalistas e revolucionários e é, talvez, um exemplo acabado da máxima de Ortega y Gasset: “O homem é ele e suas circunstâncias”.
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