O sistema prisional americano é considerado um dos piores do mundo. Ele é
tão repressivo que abriga 25% da população carcerária mundial, embora os EUA
respondam por apenas 5% da população do globo. Nem a ditadura chinesa tem
proporção tão alta de presos. A maior parte dos presos é negra, num país em que
os negros constituem minoria (cerca de 12%). E a situação das prisões piorou
consideravelmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, sem falar em Guatánamo. Além disso, os EUA são um
dos únicos países desenvolvidos que não aboliram a pena de morte. O Estado do
Texas, que já foi governado por George W. Bush, é o campeão de execuções.
Exames de DNA provaram, à posteriori, que vários executados eram inocentes. Mas
nada parece convencer as autoridades americanas a mudar o sistema. Abaixo, um
texto do Terra sobre o tema:
Do Terra
Os Estados Unidos têm, menos de 5% da
população mundial, mas respondem por quase 25% dos presidiários do planeta. Os
EUA lideram o mundo na produção de presidiários, um reflexo de uma abordagem
relativamente recente e agora caracteristicamente americana quanto ao crime e
castigo.
Americanos estão cumprindo sentenças de
prisão por crimes como uso de drogas e passar cheques sem fundo, que raramente
resultariam em encarceramento em outros países.
E, além disso, as sentenças no país se
tornaram muito mais longas do que as de prisioneiros de outras nações.
Criminologistas e estudiosos do direito em outras nações industrializadas se
declaram chocados e atônitos diante do número e da duração das sentenças de
prisão que costumam ser aplicadas nos EUA.
O país tem 2,3 milhões de criminosos
atrás das grades, número muito superior ao de qualquer outra nação, de acordo
com dados do Centro Internacional de Estudos Penitenciários, do King's College,
em Londres.
A China, com população quatro vezes
maior que a americana, ocupa um distante segundo posto, com 1,6 milhão de
prisioneiros. O número exclui centenas de milhares de pessoas que cumprem
sentenças de detenção administrativa, muitas das quais no sistema extrajudicial
chinês de reeducação pelo trabalho, que muitas vezes recebe ativistas políticos
que não cometeram qualquer crime.
San Marino, com uma população de cerca
de 30 mil habitantes, ocupa o último posto na longa lista de 218 países que o
centro compilou. Há apenas um prisioneiro lá.
Os EUA também estão no primeiro posto em
uma lista mais significativa preparada pelo centro, organizada por porcentagem
de população encarcerada.
Há 751 presidiários para cada 100 mil
habitantes, nos Estados Unidos, e se incluirmos no conta apenas os adultos, 1%
da população do país está na prisão.
O único outro grande país
industrializado a chegar perto é a Rússia, com 627 presidiários por 100 mil
habitantes. Os demais têm índices muito inferiores - 151 na Inglaterra, 88 na
Alemanha e 63 no Japão.
A média entre todos os países
pesquisados é de 125, cerca de um sexto do índice americano. Não há dúvida de
que os altos índices de encarceramento ajudaram a reduzir a criminalidade no
país, ainda que os especialistas discordem quanto às dimensões do efeito.
Os criminologistas e especialistas
judiciais americanos e internacionais apontam para um emaranhado de fatores que
explicariam o nível incomum de encarceramento no país: incidência maior de
crimes violentos, normas mais duras de sentenciamento, um legado de disparidade
racial, fervor especial no combate às drogas, o temperamento dos americanos, e
a falta de uma rede de segurança social.
Até mesmo a democracia influencia a
situação, porque muitos dos juízes são selecionados em eleições, o que
representa outra anomalia americana. Cedem às demandas populistas por Justiça
mais severa.
Qualquer que seja a razão, a disparidade
entre o sistema de Justiça americano e o do resto do mundo está crescendo
rapidamente. "Longe de servir como modelo ao mundo, os EUA contemporâneos
são encarados com horror", disse James Whitman, especialista em direito
comparativo da Universidade Yale. Certamente não temos governos europeus
enviando delegações ao país para aprender como administrar prisões."
As sentenças de prisão se tornaram
"imensamente mais duras do que em qualquer outro país ao qual os EUA
seriam usualmente comparados", disse Michael Tonry, um dos principais
estudiosos americanos de política criminal.
De fato, diz Vivian Stern, pesquisadora
do centro de estudos penitenciários do King's College, o nível de
encarceramento fez dos EUA "um país renegado, uma nação que tomou a
decisão de não adotar a abordagem ocidental normal sobre o tema".
A alta nos índices de encarceramento
americanos é tendência recente. De 1925 a 1975, o índice se manteve estável, em
cerca de 110 presidiários por 100 mil habitantes.
Os números começaram a disparar em
função do movimento de combate ao crime por meio de leis mais severas, iniciado
no final dos anos 70. O índice relativamente elevado de crimes violentos no
país, em parte facilitado pela disponibilidade bem maior de armas, ajuda a
explicar o número alto de presidiários no país.
"Os índices referentes a assaltos
não diferem tanto entre Nova York e Londres", disse Marc Mauer, diretor
executivo da Sentencing Project, uma organização de pesquisa e defesa dos
presidiários.
"Mas caso consideremos os índices
de homicídio, especialmente com o uso de armas de fogo, a disparidade aumenta
muito." A despeito de uma queda recente, o índice de homicídios nos EUA
continua quatro vezes superior ao de muitos países da Europa Ocidental.
Mas essa é apenas uma explicação
parcial. Os EUA na verdade têm índices relativamente baixos de crimes não
violentos. O número de furtos e invasões de domicílio é proporcionalmente
inferior no país ao da Austrália, Canadá e Inglaterra.
As pessoas que cometem crimes não
violentos em outros países têm menos probabilidade de ir para a prisão, e
certamente recebem sentenças bem mais curtas do que acontece nos EUA, que na
verdade são o único país avançado a impor sentenças de prisão a pessoas
culpadas de crimes como passar cheques sem fundos.
Whitman, que estudou o trabalho de
Alexis de Tocqueville sobre as prisões dos EUA, quando perguntado sobre o
motivo da alta na população carcerária americana respondeu que
"infelizmente, boa parte da resposta se relaciona à democracia -
exatamente o tema de que Tocqueville tratou. Temos um sistema de justiça
criminal altamente politizado".
Tradução: Paulo Migliacci
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