Manifestação da UNE em 1942 pela entrada do Brasil na guerra |
Há 70 anos a ditadura do
Estado Novo de Getúlio Vargas fazia uma inflexão fundamental, com o afastamento
de Filinto Müller da chefia da Polícia do Distrito Federal – na verdade,
polícia política – e de outros simpatizantes do nazi-fascismo no governo, como
o ministro da Justiça, Francisco Campos, e o chefe do Departamento de Imprensa
e Propaganda (DIP), Lourival Fontes. Mas um desses germanófilos – o general
Eurico Gaspar Dutra – permaneceu no poder e acabaria sendo eleito presidente da República em 1946.
A queda dessa ala ocorreu
depois de uma passeata promovida pela União Nacional dos Estudantes (UNE) em 4
de julho de 1942, aniversário da independência dos Estados Unidos, em apoio à
entrada do Brasil na guerra contra a Alemanha nazista. Entre 1941 e 1944
submarinos alemães afundaram 33 navios mercantes brasileiros, matando mais de
mil pessoas; os americanos entraram na guerra contra o Eixo em dezembro de
1941, depois do ataque do Japão à base de Pearl Harbour, e pressionavam o
Brasil para romper com os alemães. Müller queria proibir a passeata e travou
uma violenta discussão com Vasco Leitão da Cunha, ministro da Justiça interino,
que chegou a ordenar a prisão do chefe de polícia. Mas a passeata foi
autorizada pela ala americanófila do governo, liderada pelo chanceler Oswaldo
Aranha e pelo interventor no Rio, Amaral Peixoto,
Artilheiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália |
Com os germanófilos fora do
governo, o Brasil declarou guerra à Alemanha em agosto de 1942. Dois anos
depois, uma força expedicionária de 25 mil homens desembarcava na Itália para
lutar contra os nazistas integrando o V Exército americano. Tidos como
despreparados pelos americanos, os soldados brasileiros se revelaram valentes e
venceram os alemães em batalhas importantes como Monte Castelo e Montese. O
Brasil foi o único país latino-americano a enviar tropas contra o
nazi-fascismo.
Filinto Müller, chefe de polícia no Estado Novo e líder do governo Médici |
Fiéis às suas convicções
reacionárias, os germanófilos serviriam à ditadura seguinte, a dos militares.
Filinto Müller – o homem que transformou a tortura e a repressão policial em
método e foi o responsável pela deportação de Olga Benário Prestes para a Alemanha –
foi presidente da Arena, o partido de sustentação do regime, e presidente do
Congresso. Já Francisco Campos, que havia redigido a Constituição do Estado
Novo – conhecida como “polaca” –, ajudou os militares a redigir os dois
primeiros Atos Institucionais. Quem sai aos seus não degenera, diz o dito
popular.
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