O presidente francês, o
socialista François Hollande, reconheceu a responsabilidade da França na
deportação de 13 mil judeus durante a Segunda Guerra Mundial, no que ele
classificou de “um crime cometido na França e pela França”. A declaração
ocorreu durante o 70º aniversário da prisão e concentração de judeus franceses
no estádio Vel d’ Hiver (Velódromo do Inverno) para posterior envio a
campos de extermínio nazistas. “Nenhum soldado alemão foi mobilizado durante a
operação. Foi um crime cometido na França e pela França”, disse o presidente.
Dos 76 mil judeus da França que foram deportados, só 2.500 sobreviveram.
Judeus no Vel d' Hiver aguardando deportação em 1942 |
A questão do colaboracionismo com a ocupação nazista ainda é uma ferida aberta da França. O líder da
libertação, general Charles De Gaulle, criou o mito de que toda ou quase toda a
França apoiara a Resistência – o que, sabe-se, nunca passou de uma ilusão autocomplacente. Antes de Hollande, apenas outro presidente, o gaullista Jacques
Chirac, havia admitido – em 1995, genericamente – o papel do Estado francês na
perseguição aos judeus durante o regime de Vichy. Já seu antecessor, o socialista François Mitterrand, que governou a França por 14 anos (1981-1995),
manteve a postura defendida por De Gaulle de que, durante a Segunda Guerra
Mundial, o único regime legítimo da França – e, portanto, o Estado francês –,
era aquele da França Livre, sediado em Londres.
Antes tarde do que nunca.
Afinal, o não-reconhecimento do papel da França e de muitos franceses na obra
de terror e miséria do III Reich é o que alimenta – além da crise econômica e
da desigualdade social, é claro – o antissemitismo, a xenofobia e os 18% de
votos da Frente Nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário