O economista Nouriel Roubini |
Abaixo, uma entrevista de Roubini à Bloomberg na qual ele prevê um agravamento sem precedentes da crise no próximo ano. O fim do mundo, dessa maneira, não será em 2012, como previam os maias, mas em 2013...
A tempestade
global perfeita em 2013
Bloomberg – Sr. Roubini, que consequências o escândalo
da taxa Libor terá na
cultura dos bancos?
O Apocalipse, Gustave Doré |
O sr.
acha que deveria haver punições criminais?
Dresden, 1945 |
Deveria, já que ninguém foi
parar na prisão desde a crise financeira global, por o que quer que tenha
feito. Os bancos fazem coisas ilegais e no melhor caso levam multa. Se algumas
pessoas acabarem na cadeia talvez ensine uma lição, ou alguém enforcado nas
ruas.
A cultura
dos bancos vai mudar?
Nada vai mudar, é o mesmo de
antes. Há mais conflitos de interesse hoje que quatro anos atrás. Nos Estados
Unidos você tinha bancos muito grandes para falir e hoje eles são ainda maiores
para falir, porque o JPMorganChase assumiu o Washington Mutual e o Bear Sterns,
o Bank of America assumiu o Merryl Linch e o Countrywide, assim os bancos muito
grandes para falir, com seus conflitos de interesse, se tornaram bancos ainda
maiores para falir. As coisas pioraram, não se tornaram melhores, nada mudou.
Tivemos
recentemente a crucial cúpula da União Europeia, com medidas tomadas para
ajudar a Espanha e a Itália. Acha que a UE está salva?
A cúpula foi um fracasso
porque uma semana depois dela e do Banco Central Europeu (BCE) ter cortado as
taxas de juros, as taxas de risco da dívida da Espanha voltaram a ficar acima
dos 7%, o mercado de ações caiu 3 por cento, mas nada mudou. Depois dos
supostos sucessos os mercados esperavam muito mais. Ou você tem mutualização da
dívida para reduzir as taxas de risco, ou tem a monetização da dívida por parte
do Banco Central Europeu ou usa a bazuca para dobrar ou triplicar ou
quadruplicar a injeção de dinheiro nos bancos direta ou indiretamente ou as
taxas da Espanha e da Itália vão explodir mais e mais, dia após dia, e você
terá uma crise pior, não daqui a seis meses, uma crise maior nas próximas duas
semanas.
O que
deveria fazer o BCE?
A única instituição que tem
poder de garantir a dívida dos governos é o BCE. Precisamos de algo que é
politicamente incorreto falar. Monetização da dívida. Compra da dívida destes
governos pelo BCE. Algo que o BCE não quer fazer e diz que institucionalmente
está proibido de fazer.
Existe
muita resistência, inclusive anglo-americana?
Sim, na Alemanha e em todo o centro
[da zona do euro]. Na Holanda, na Áustria, na Finlândia. A Finlândia não aceita
nem mesmo um pequeno valor de dívida mutualizada, que permitiria a compra de
dívida no mercado secundário. Mesmo este valor pequeno de mutualizaçao da
dívida, de forma indireta, eles vão lutar contra. Nao é apenas resistência
anglo-americana ou alemã, o coração da zona do euro não quer assumir o risco de
crédito envolvido em qualquer tipo de mutualização de dívida.
Você
disse que em 2013 será muito difícil encontrar um esconderijo?
Penso que em 2013 os
formuladores da política serão incapazes de evitar a perda de fôlego da
economia, que o lento acidente de trem da zona do euro vai se tornar um
acidente veloz, que os Estados Unidos parecem próximos de parar e mergulhar em
uma nova recessão — segundo os dados econômicos mais recentes –, que o pouso da
China está se tornando mais duro que suave, e que todos os mercados emergentes
também estão reduzindo fortemente seu crescimento econômico, todos os BRICs —
China, Rússia, Índia e Brasil — mas também o México e a Turquia,
parcialmente por causa da recessão na Europa e no Reino Unido, do
crescimento lento dos EUA, parcialmente porque não fizeram as reformas para
aumentar a produtividade e potencializar o crescimento, e finalmente porque
existe a bomba relógio de uma potencial guerra entre Israel, Estados Unidos e
Irã.
Hiroshima, 1945 |
Suas
previsões são piores que as de 2008?
Muito piores porque, como em
2008, agora você tem uma crise econômica e financeira, mas diferentemente de
2008 não há mais balas para usar. Naquela época podíamos cortar os juros de 6%
para 0, 1, 2 ou 3, podíamos dar estímulos fiscais de até 10 por cento do PIB,
podíamos resgatar os bancos e todos os demais. Hoje, mais QEs [Quantitative
Easing, a impressão de dinheiro pelo Tesouro dos Estados Unidos] está se
tornando menos eficaz porque o problema é de solvência, não de liquidez; os
déficits fiscais já são solares, todos precisam reduzir os déficits, não dá
para aumentar; e não dá mais para resgatar os bancos porque, um, existe
oposição a isso, dois, os governos estão quase insolventes, não podem se
salvar, o que dizer salvar os bancos. O problema é que estamos sem balas na
agulha, estamos sem coelhos para tirar das cartolas políticas. Se um
derretimento dos mercados e da economia acontecer não temos mais a rede de
segurança para absorver os choques, porque gastamos os últimos quatro anos
atirando 95% da munição. Poderá [2013] ser pior que 2008.
Você
prevê o rompimento da zona do euro em 2013?
Não acho que haverá o
rompimento da zona do euro em 2013, apesar de acreditar que até lá teremos a
saída da Grécia da zona do euro. Acho que nos próximos três a cinco anos temos
uma chance de 40 a
50% de ver o fim da zona do euro. Eu diria que outros países do centro podem
decidir pela saída. A Finlândia pode sair antes da Grécia. A Finlândia não quer
assumir os riscos adicionais de crédito envolvidos, [os finlandeses] já estão
expostos a vários mecanismos [de ajuda]. Agora, se houver mutualização da
dívida, união fiscal, novas garantias de todos os tipos, eles são contra, um
país como a Finlândia pode sair [da zona do euro]. Ou, na periferia, um país
como a Itália poderia decidir pela saída, porque há vários interesses
econômicos e financeiros que querem voltar para a lira, como o Berlusconi e seu
partido, o novo movimento Cinco Estrelas de Beppe Grillo, a Liga Norte, há
muita gente na Itália que não gosta do euro e que pode ganhar dinheiro voltando
para a lira. As pessoas pensam na Grécia, mas poderia acontecer na Finlândia ou
na Itália. Não acho que haverá rompimento no ano que vem, acho que a Grécia sai
em 2013 e em até 5 anos há 50% de chance de rompimento da zona do euro.
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