O professor Vladimir Safatle |
Recentemente o professor
Vladimir Safatle, da USP, escreveu um artigo intitulado A geração que quebrou o mundo, no qual ele diz que, aos 40 anos,
lembra que, quando tinha 20, ouvia dizer que não havia mais luta política, que
o mundo estava globalizado e que o que valia era a eficácia, a capacidade de
assumir riscos, de ser criativo, inovador, de preferência em alguma agência de
publicidade ou departamento de marketing. Contestação era coisa da geração de
1968, completamente superada e defasada. Se assumissem essa “nova realidade”,
diz Safatle, as pessoas entrariam num futuro radiante onde só haveria
vencedores, raves e os que ficassem para trás teriam um “problema moral” pelo
fato de não assumirem riscos e a necessidade de inovar constantemente. Não por
acaso, Steve Jobs é o ícone dessa geração, que defendia uma autêntica sociedade
da “destruição criativa” de que falava o economista Joseph Schumpeter,
acrescento eu.
Muita gente que acreditou
nesse discurso há 20 anos acabou indo trabalhar no sistema financeiro (e alguns
na mídia, acrescento eu). Safatle diz que eles – a sua geração – simplesmente conseguiram
quebrar a economia mundial em 2008. Como epígonos de Hayek e Milton Friedman, insistiam
que “não havia alternativa” ao modelo neoliberal globalizado e que as
manifestações populares de protesto eram meras relíquias do passado
pré-globalização. Mas, quando veio a crise, saíram correndo em busca da
salvação do Estado que eles queriam mínimo. E hoje, os bancos que há três anos
estavam prestes a quebrar, principalmente na Europa, estão superavitários,
enquanto que os Estados vivem uma grave crise fiscal. Mas os banqueiros e o
sistema financeiro internacional querem que milhões de trabalhadores tomem
doses cavalares de austeridade, percam o emprego e suas economias para que
Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália paguem os juros da dívida e não
afugentem os investidores. Não aprenderam nada.
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