François Hollande comemora vitória ao lado da mulher |
A eleição do socialista Claude Hollande à presidência da França representa
uma vitória das forças progressistas, na medida em que significa o fim do lamentável
reinado de Nicolas Sarkozy, que comandou o mais reacionário dos governos da V
República. Mas é preciso não alimentar ilusões em relação aos socialistas: tanto
François Mitterrand na presidência quanto Lionel Jospin, que foi
primeiro-ministro entre 1997 e 2002, se alinharam à lógica privatizante do
Consenso de Washington. E olhe que Jospin tinha passado trotskista e representava
a ala esquerda do Partido Socialista. Esperemos, no entanto. Quem sabe agora
apresentem uma alternativa?
Mais interessante, contudo, parece ser o que está acontecendo na Grécia,
onde a coalizão de esquerda Syriza tornou-se a segunda força política do país e
propõe um governo que rejeite a política de austeridade para pagar a dívida a
qualquer custo. Infelizmente, o KKE (Partido Comunista grego), outra força de
esquerda importante, já rejeitou a aliança, repetindo o sectarismo esquerdista
da III Internacional do chamado “Terceiro Período”.
Abaixo, artigo sobre a Grécia publicado no site “esquerda net”:
Syriza quer governo de esquerda para
romper com a troika
Da esquerda net
O resultado das
eleições gregas representa um autêntico terremoto político: com cerca de metade
dos votos contados, a coligação Syriza, que se opõe ao memorando da troika, já
ultrapassou em muito o resultado obtido nas eleições de 2009 e confirma-se como
a segunda força política grega e a primeira da esquerda. Alexis Tsipras, o
líder da coligação, diz que o resultado de hoje mostra que os gregos e os
europeus querem “cancelar o memorando da barbárie” a que a troika tem sujeitado
o seu país nos últimos anos. A confirmarem-se os resultados que apontam que os
partidos que apoiam o memorando serão minoritários no Parlamento grego – mesmo
com os 50 deputados que são automaticamente atribuídos ao partido vencedor, a
Nova Democracia –, Tsipras propôs a formação de um governo de esquerda e disse
que esta eleição é “uma mensagem de derrubada” do governo da troika.
Alexis Tsipras |
“A nossa proposta
é a de um governo de esquerda que, com o apoio do povo, irá recusar o memorando
e pôr fim ao rumo pré-determinado do país para a miséria”, afirmou Tsipras, que
disse estar certo que a subida meteórica do Syriza não se deve a uma pessoa ou
partido em especial, mas a esta proposta que repetiu na campanha eleitoral. A
coligação parceira do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu e no Partido da
Esquerda Europeia – de que Tsipras é vice-presidente – venceu as eleições em
onze círculos eleitorais, incluindo a capital Atenas.
O líder do PASOK
falou antes de Tsipras e reagiu à derrota histórica – o partido deve perder
mais de dois terços dos votos que teve na última eleição – dizendo que
procurará formar um governo com os partidos que apoiam o memorando. Evangelos
Venizelos disse estar certo que os resultados deste domingo “excluem o velho
sistema dos dois partidos” no governo.
Antonis Samaras,
líder do partido mais votado, reagiu aos resultados conhecidos com duas
condições para dar início à formação do governo: a manutenção do euro e a
mudança das políticas do memorando da troika para “ter crescimento e dar alívio
à sociedade grega”.
Os resultados
eleitorais — numa altura em que estão contados 70% dos votos – dão 19,8%
para a Nova Democracia, 16,3% para o Syriza, 13,6% para o PASOK, 10,5 para os
Gregos Independentes, 8,4% para o KKE (PC grego), 6,9% para os neonazis da
Aurora Dourada e 6% para a Esquerda Democrática. A extrema-direita do LAOS, que
participou e depois rompeu com o governo da troika, não deverá eleger
deputados, obtendo 2,9%. A abstenção está estimada em 38%.
Em comunicado, o
KKE já rejeitou a proposta do Syriza, classificando esta força de
social-democrata e acusando-a de servir para impedir a radicalização da
sociedade grega. Para a secretária-geral Aleka Papariga, o resultado do partido
não foi uma surpresa, mas a distribuição dos votos indica que o KKE não
conseguiu mobilizar o sentimento antitroika do povo grego desta eleição, nem
mesmo nos tradicionais bastiões eleitorais comunistas, perdendo votos nas zonas
urbanas, onde disputa deputados com os neonazis. O surgimento em força da
Aurora Dourada – sobretudo no voto urbano e nos bairros populares – veio abalar
a política grega.
Resultados
na Grécia são um “sinal importante que o povo grego dá à Europa”
“Já felicitamos o
dirigente e o candidato da coligação de esquerda, com quem temos excelentes
relações e com quem temos feito um caminho conjunto no sentido de combater esta
Europa de austeridade”, informou Marisa Matias.
A eurodeputada do
Bloco de Esquerda considera que, com estes resultados, o povo grego “rejeitou a
deriva neoliberal de austeridade”. “O que é muito importante porque é um sinal
claro de que o povo grego está aberto a que outras propostas surjam, que não
sejam sempre neste mesmo caminho”, disse, sublinhando ainda que “rejeitou uma
outra, de rejeitar o projeto europeu, porque a Europa pode ser outra coisa”.
Para Marisa
Matias, porque “nunca colocaram a hipótese da saída do Euro, nem da União
Europeia, mas antes lutaram por um projeto europeu que seja mais solidário e
mais consistente”, os gregos dão “um sinal muito importante quer à Europa, quer
a Portugal”, que está “numa situação muito semelhante à da Grécia”.
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