Leio que uma atriz pornô francesa,
Celine Bara, de 33 anos, está se candidatando à Assembléia Nacional pelo MAL
(Movimento Antiteísta e Libertino) pela região de Ariège, sul da França. A bela
diz defender uma plataforma de extrema esquerda, LGBT, anti-fronteiras, antirreligião,
a favor do aborto e da eutanásia. Uma Cicciolina (atriz pornô italiana que se
tornou deputada nos anos 1980/1990) mais à esquerda, dizem. Beleza, penso eu.
Candidaturas libertárias são sempre benvindas, embora poucas sejam viáveis.
Lembro-me que em 1982 participei da campanha de Caterine Koltay à Câmara
Muncipal. Ela tinha uma plataforma totalmente antiestablishment, que irritava
os setores mais ortodoxos e stalinistas do PT. Defendia a liberação das drogas,
o aborto. Seu slogan de campanha se resumia em um charmoso “desobedeça”. Não se
elegeu, mas teve 33 mil votos. Nada mal, inclusive pensando-se na realidade de
30 anos atrás.
Mas estou me desviando.
Continuo lendo as propostas de Celine Bara. Levo um susto quando leio a
declaração dela ao site operamundi: “Eu proponho a interdição total de todas as
religiões, sem exceção, e acho que só um estado forte é capaz de impor essas
medidas radicais capazes de mudar as mentalidades do sistema. Eu sou contra o
secularismo francês (laïcité) e pela criação de uma república democrática
francesa comunista e atéia”. Uau! Parece mais uma declaração de princípios do
regime norte-coreano. Será que essa moça tem a mínima idéia dos estragos que o
stalinismo provocou à causa socialista e mesmo progressista?
Parece que não. Segundo o
operamundi, Celine Bara e o MAL se apresentam como uma resposta “neo-stalinista”
ao nacionalismo de Marine Le Pen. Mas aí vem o pior: o partido propõe políticas
de controle de natalidade, como a esterilização de doentes mentais com doenças
genéticas e o fim de esportes violentos, como o rúgbi, paixão nacional
francesa. Bom, parei por aqui. Se alguém minimamente informado acha que a
defesa da eugenia – inventada por britânicos e americanos, mas aplicada em
escala industrial pelos nazistas – pode ter alguma coisa a ver com um ideário progressista,
não entendeu nada que a história ensinou nos últimos 100 anos. Se alguém considera
que idéias de “aperfeiçoamento da raça” fazem parte da herança da esquerda, não
tem a menor idéia do que foram o Iluminismo, a Revolução Francesa e o movimento
operário e democrático.
O que me espanta é que se
possa chamar uma candidatura que defende tais bandeiras como sendo de “esquerda”.
OK, o MAL é antirreligioso, defende o aborto e a eutanásia, mas apenas isso não
o qualifica como agremiação progressista. Afinal, fascistas e nazistas também
defendiam bandeiras semelhantes. O que identifica um ideário de esquerda é sua pertença
à herança iluminista, a defesa intransigente dos direitos humanos, da liberdade
e da igualdade social. Quando um partido fala de proibir a liberdade de culto e
de esterilizar deficientes mentais está muito mais para o lepenismo, o regime
de Vichy e o III Reich do que qualquer outra coisa.
A atriz e deputada italiana Cicciolina |
Coitada da Cicciolina. A pop star da política era
excêntrica, meio maluca, às vezes confusa, mas jamais defendeu teses caras ao fascismo ou à
extrema-direita xenófoba. Ela nunca foi do MAL...
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