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quarta-feira, 30 de maio de 2012

ESQUERDA NÃO RIMA COM EUGENIA

Leio que uma atriz pornô francesa, Celine Bara, de 33 anos, está se candidatando à Assembléia Nacional pelo MAL (Movimento Antiteísta e Libertino) pela região de Ariège, sul da França. A bela diz defender uma plataforma de extrema esquerda, LGBT, anti-fronteiras, antirreligião, a favor do aborto e da eutanásia. Uma Cicciolina (atriz pornô italiana que se tornou deputada nos anos 1980/1990) mais à esquerda, dizem. Beleza, penso eu. Candidaturas libertárias são sempre benvindas, embora poucas sejam viáveis. Lembro-me que em 1982 participei da campanha de Caterine Koltay à Câmara Muncipal. Ela tinha uma plataforma totalmente antiestablishment, que irritava os setores mais ortodoxos e stalinistas do PT. Defendia a liberação das drogas, o aborto. Seu slogan de campanha se resumia em um charmoso “desobedeça”. Não se elegeu, mas teve 33 mil votos. Nada mal, inclusive pensando-se na realidade de 30 anos atrás.
 
Mas estou me desviando. Continuo lendo as propostas de Celine Bara. Levo um susto quando leio a declaração dela ao site operamundi: “Eu proponho a interdição total de todas as religiões, sem exceção, e acho que só um estado forte é capaz de impor essas medidas radicais capazes de mudar as mentalidades do sistema. Eu sou contra o secularismo francês (laïcité) e pela criação de uma república democrática francesa comunista e atéia”. Uau! Parece mais uma declaração de princípios do regime norte-coreano. Será que essa moça tem a mínima idéia dos estragos que o stalinismo provocou à causa socialista e mesmo progressista?

Parece que não. Segundo o operamundi, Celine Bara e o MAL se apresentam como uma resposta “neo-stalinista” ao nacionalismo de Marine Le Pen. Mas aí vem o pior: o partido propõe políticas de controle de natalidade, como a esterilização de doentes mentais com doenças genéticas e o fim de esportes violentos, como o rúgbi, paixão nacional francesa. Bom, parei por aqui. Se alguém minimamente informado acha que a defesa da eugenia – inventada por britânicos e americanos, mas aplicada em escala industrial pelos nazistas – pode ter alguma coisa a ver com um ideário progressista, não entendeu nada que a história ensinou nos últimos 100 anos. Se alguém considera que idéias de “aperfeiçoamento da raça” fazem parte da herança da esquerda, não tem a menor idéia do que foram o Iluminismo, a Revolução Francesa e o movimento operário e democrático.

O que me espanta é que se possa chamar uma candidatura que defende tais bandeiras como sendo de “esquerda”. OK, o MAL é antirreligioso, defende o aborto e a eutanásia, mas apenas isso não o qualifica como agremiação progressista. Afinal, fascistas e nazistas também defendiam bandeiras semelhantes. O que identifica um ideário de esquerda é sua pertença à herança iluminista, a defesa intransigente dos direitos humanos, da liberdade e da igualdade social. Quando um partido fala de proibir a liberdade de culto e de esterilizar deficientes mentais está muito mais para o lepenismo, o regime de Vichy e o III Reich do que qualquer outra coisa.

A atriz e deputada italiana Cicciolina
Coitada da Cicciolina. A pop star da política era excêntrica, meio maluca, às vezes confusa, mas jamais defendeu teses caras ao fascismo ou à extrema-direita xenófoba. Ela nunca foi do MAL...


   


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