Em tempos
de escassez de liberais – no sentido americano do termo, isto é, social-democrata
– nos EUA, vale a pena lembrar a trajetória de Robert Francis Kennedy, o irmão
mais novo de John Fitzgerald Kennedy, assassinado em 6 de junho de 1968. Foi uma trajetória insólita, ainda mais para um americano. Fiel às
posições anticomunistas do pai, “Bobby”, como era conhecido, começou sua
carreira política assessorando Joseph McCarthy, senador de extrema-direita que
presidia o famigerado Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso. Bobby
foi um dos mais dedicados auxiliares do senador que caçava bruxas por todos os
lados. Como conselheiro do comitê que investigava as atividades criminosas de
sindicatos, Bobby peitou o presidente do sindicado dos caminhoneiros (Teamsters),
o mafioso Jimmy Hoffa. Em 1961, quando foi nomeado Procurador Geral (equivalente
a ministro da Justiça) pelo presidente John Kennedy, Bobby ainda era marcado
por uma postura fundamentalmente conservadora.
Em
termos políticos, aliás, John Kennedy era tão obcecado pelo anticomunismo
quanto Eisenhower ou Nixon. O presidente democrata não só aprovou operações
secretas contra Cuba, como a invasão da Baía dos Porcos em 1961, como iniciou a
escalada das tropas americanas no Vietnã e a corrida nuclear - apesar das
bobagens em contrário ditas no filme JKF, de Oliver Stone. John e Bobby também
aprovaram diversas ações contra Cuba, como a Operação Mongoose, destinada a
provocar a derrubada do regime castrista.
Mas Bobby
Kennedy fez a virada política decisiva do clã. E esta se deu por causa do
pastor negro Martin Luther King, líder da luta pelos direitos civis. Bobby, que
inicialmente mandara o FBI espionar King por suspeitar que seu movimento estava
infiltrado por comunistas, passou a defendê-lo na luta contra os racistas do
sul dos Estados Unidos. O
procurador se envolveu a tal ponto que ajudou o governo a preparar a Civil
Rights Act (Lei dos Direitos Civis), que, entre outras coisas, acabava com a
discriminação racial que perdurava no sul desde a Guerra Civil. Muito criticada no Congresso, a lei
foi aprovada em 1964, sob o impacto do assassinato de John Kennedy.
Eleito
senador por Nova York em 1964, Bobby mergulhou na campanha pelos direitos civis
e na defesa dos marginalizados, principalmente negros e pobres das grandes
cidades. Fez críticas duras ao apartheid (regime de supremacia branca então
vigente na África do Sul), coisa que poucos políticos, à época, tinham coragem.
O senador também se tornou um crítico ácido da Guerra do Vietnã, indispondo-se
cada vez mais com o presidente Lyndon Johnson. Naquele ano de 1968, lançou-se pré-candidato
à Casa Branca pelo Partido Democrata, conquistando o apoio de parte da
juventude que se rebelava contra o establishment. Foi assassinado no
Hotel Ambassador, em Los
Angeles , quando comemorava a vitória nas prévias da
Califórnia. Seu irmão caçula, o senador Edward (Teddy) Kennedy, foi o mais "esquerdista" dos Kennedys, tornando-se o principal crítico da ajuda militar americana a ditadores como Pinochet. Depois dele, os democratas foram cada vez mais para o centro do espectro político.
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