A burguesia paulista é oligárquica e elitista numa sociedade construída pelo trabalho de negros, nordestinos e imigrantes; apoiou o golpe militar, a ditadura e o Doi-CODI por causa do "milagre econômico"; acha o Serra o máximo e o Lula um analfabeto corrputo e ambicioso, embora seus modelos de líderes tenham sido bandoleiros como Domingos Jorge Velho, Adhemar de Barros, Jânio Quadros e Paulo Maluf; viaja a Paris, Madri e Roma, mas se esbalda mesmo em Las Vegas, Miami e Orlando; fica indignada porque suas antigas empregadas estão virando cabeleireiras e enchendo os aeroportos; aplaude a violência da Rota contra bandidos pobres mas convive com gângsters de colarinho branco. E essa mentalidade fascista foi inteiramente assimilada pela classe média alta. Aqui, uma radiografia da burguesia paulista pelo prof. Emir Sader:
O dedo de Lula
Do Blog do Emir Sader
A sociedade brasileira teve sempre a
discriminação como um dos seus pilares. A escravidão, que desqualificava, ao
mesmo tempo, os negros e o trabalho – atividade de uma raça considerada
inferior – foi constitutiva do Brasil, como economia, como estratificação
social e como ideologia.
Uma sociedade que nunca foi majoritariamente branca, teve sempre como ideologia dominante a da elite branca. Sempre os brancos presidiram o país, ocuparam os cargos mais importantes nas FFAA, nos bancos, nos ministérios, na direção das grandes empresas, na mídia, na direção dos clubes – em todos os lugares em que se concentra o poder na sociedade.
Retirantes, de Cândido Portinari |
A elite paulista representa melhor do que
qualquer outro setor, esse ranço racista. Nunca assimilaram a Revolução de 30,
menos ainda o governo do Getúlio. Foram derrotados sistematicamente por Getúlio
e pelos candidatos que ele apoiou. Atribuíam essa derrota aos “marmiteiros”-
expressão depreciativa que a direita tinha para os trabalhadores, uma forma
explícita de preconceito de classe.
A ideologia separatista de 1932 – que considerava São Paulo “a locomotiva da nação”, o setor dinâmico e trabalhador, que arrastava os vagões preguiçosos e atrasados dos outros estados – nunca deixou de ser o sentimento dominante da elite paulista em relação ao resto do Brasil. Os trabalhadores imigrantes, que construíram a riqueza de Sao Paulo, eram todos “baianos” ou “cabeças chatas”, trabalhadores que sobreviviam morando nas construções – como o personagem que comia gilete, da música do Vinicius e do Carlos Lira, cantada pelo Ari Toledo, com o sugestivo nome de pau-de-arara, outra denominação para os imigrantes nordestinos
A elite paulista foi protagonista essencial nas marchas das senhoras com a igreja e a mídia, que prepararam o clima para o golpe militar e o apoiaram, incluindo o mesmo tipo de campanha de 1932, com doações de joias e outros bens para a “salvação do Brasil”- de que os militares da ditadura eram os agentes salvadores.
Terminada a ditadura, tiveram que conviver
com o Lula como líder popular e o Partido dos Trabalhadores, para o qual
canalizaram seu ódio de classe e seu racismo. Lula é o personagem preferencial
desses sentimentos, porque sintetiza os aspectos que a elite paulista mais
detesta: nordestino, não branco, operário, esquerdista, líder popular.
Getúlio, o vilão; Jorge Velho, o herói |
Essa elite racista teve que conviver com o sucesso dos governos Lula, depois do fracasso do seu queridinho – FHC, que saiu enxotado da presidência – e da sua sucessora, a Dilma. Tem que conviver com a ascensão social dos trabalhadores, dos nordestinos, dos não brancos, da vitória da esquerda, do PT, do Lula, do povo.
O ódio a Lula é um ódio de classe, vem do
profundo da burguesia paulista e de setores de classe média que assumem os
valores dessa burguesia. O anti-petismo é expressão disso. Os tucanos são sua
representação política.
Da discriminação, do racismo, do pânico diante das ascensão das classes populares, do seu desalojo da direção do Estado, que sempre tinham exercido sem contrapontos. Os Cansei, a mídia paulista, os moradores dos Jardins, os adeptos do FHC, do Serra, do Gilmar, dos otavinhos – derrotados, desesperados, racistas, decadentes.
Da discriminação, do racismo, do pânico diante das ascensão das classes populares, do seu desalojo da direção do Estado, que sempre tinham exercido sem contrapontos. Os Cansei, a mídia paulista, os moradores dos Jardins, os adeptos do FHC, do Serra, do Gilmar, dos otavinhos – derrotados, desesperados, racistas, decadentes.
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