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quarta-feira, 13 de junho de 2012

AOS AMIGOS, TUDO; AOS INIMIGOS, O CONCEITO


Jeanne Kirpatrick, ex-embaixadora americana na ONU

Outro dia o professor Emir Sader comentou os critérios utilizados por analistas americanos para classificar governos, regimes ou dirigentes como “democráticos” ou “não-democráticos”. Quase três décadas atrás, Jeanne Kirkpatrick elaborou o conceito de regimes “autoritários”, de direita e amigos dos EUA, e “totalitários”, de esquerda e hostis aos EUA. Agora, os analistas sofisticaram o modelo: democráticos são países e dirigentes que seguem critérios liberais – eleições periódicas, pluripartidarismo, alternância de poder, separação de poderes, imprensa livre (quer dizer, privada).

Fareed Zakaria
Entanto, dizem, há governos que, embora sigam esses critérios, não podem ser considerados democráticos porque não incentivam o capitalismo e a abertura econômica, tidos como “habitats naturais” da democracia. Essa classificação sofisticada, criada por Fareed Zakaria – ex-editor da Newsweek, hoje na Time – tem, no entanto, o mesmo vezo reacionário da formulação de Kirpatrick. Teoria à parte, todos os países que não cumprem os critérios propostos por estes analistas têm em comum o fato de praticarem políticas contrárias aos interesses dos EUA: Venezuela, Irã, Bolívia, Equador, Cuba.  

“Agora um outro politólogo norteamericano, William Dobson, publica um livro na busca dos ‘neoditadores’ e a imprensa daqui, colonizada, reproduz imediatamente a lengalenga deles”, diz Sader. “Significativamente a preocupação ‘democrática’ dele se volta justo para países cujos governos têm antagonismos com os EUA: Irã, Venezuela, Rússia e China”. Fica evidente que o problema não é o sistema político ou a estrutura social desses países, mas suas posições políticas e a ação diplomática na arena internacional.

Tanto é assim que esses politicólogos modernos pouco ou nada falam de países ditatoriais que são firmes aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, o Paquistão, o Iraque, o Kuait, os Emirados Árabes, o Iêmen, o Afeganistão, Mianmar (antiga Birmânia) ou Cingapura. São países com regimes que de democráticos não têm nada, nem pelos estreitos critérios liberais. Alguns, como a Arábia Saudita e o Paquistão, são centros de propagação terrorista; outros, como o Paquistão, tem até armas nucleares. Mas, como são todos aliados incondicionais dos EUA, raramente são mencionados nas listas periódicas que Tio Sam elabora de “regimes párias” ou não-democráticos.   

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