Jeanne Kirpatrick, ex-embaixadora americana na ONU |
Outro
dia o professor Emir Sader comentou os critérios utilizados por analistas
americanos para classificar governos, regimes ou dirigentes como “democráticos”
ou “não-democráticos”. Quase três décadas atrás, Jeanne Kirkpatrick elaborou o conceito
de regimes “autoritários”, de direita e amigos dos EUA, e “totalitários”, de
esquerda e hostis aos EUA. Agora, os analistas sofisticaram o modelo: democráticos
são países e dirigentes que seguem critérios liberais – eleições periódicas, pluripartidarismo,
alternância de poder, separação de poderes, imprensa livre (quer dizer,
privada).
Fareed Zakaria |
Entanto,
dizem, há governos que, embora sigam esses critérios, não podem ser considerados
democráticos porque não incentivam o capitalismo e a abertura econômica, tidos
como “habitats naturais” da democracia. Essa classificação sofisticada, criada
por Fareed Zakaria – ex-editor da Newsweek, hoje na Time – tem, no entanto, o
mesmo vezo reacionário da formulação de Kirpatrick. Teoria à parte, todos os países
que não cumprem os critérios propostos por estes analistas têm em comum o fato
de praticarem políticas contrárias aos interesses dos EUA: Venezuela, Irã, Bolívia,
Equador, Cuba.
“Agora
um outro politólogo norteamericano, William Dobson, publica um livro na busca
dos ‘neoditadores’ e a imprensa daqui, colonizada, reproduz imediatamente a
lengalenga deles”, diz Sader. “Significativamente a preocupação ‘democrática’
dele se volta justo para países cujos governos têm antagonismos com os EUA: Irã,
Venezuela, Rússia e China”. Fica evidente que o problema não é o sistema político
ou a estrutura social desses países, mas suas posições políticas e a ação
diplomática na arena internacional.
Tanto é
assim que esses politicólogos modernos pouco ou nada falam de países ditatoriais
que são firmes aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, o Paquistão, o Iraque, o
Kuait, os Emirados Árabes, o Iêmen, o Afeganistão, Mianmar (antiga Birmânia) ou
Cingapura. São países com regimes que de democráticos não têm nada, nem pelos
estreitos critérios liberais. Alguns, como a Arábia Saudita e o Paquistão, são
centros de propagação terrorista; outros, como o Paquistão, tem até armas
nucleares. Mas, como são todos aliados incondicionais dos EUA, raramente são
mencionados nas listas periódicas que Tio Sam elabora de “regimes párias” ou não-democráticos.
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