Antigamente, quando precisava fomentar instabilidade em países
governados por dirigentes que não se alinhavam aos EUA, a CIA recorria a operações
de guerra psicológica e paramilitares. De acordo com o ex-agente da CIA Philip
Agee, essas operações eram arriscadas, porque visavam a influenciar, por meios
encobertos, os assuntos internos de outros países, com os quais Washington mantinha
relações diplomáticas.
As operações de guerra psicológica implicavam propaganda, ou seja,
campanha através da mídia, junto às diversas organizações sociais e grupos
profissionais, bem como junto aos partidos políticos, sem que a procedência das
informações pudesse ser atribuída ao governo americano.
Tais operações tipificavam a técnica do golpe de Estado, que a CIA
aplicou no Brasil e em diversos países da América Latina nos anos 1960 e 1970
do século XX, radicalizando, artificialmente, as lutas sociais até provocar o
desequilíbrio político e desestabilizar governos que não se submetiam às
diretrizes estratégicas dos EUA.
Mas agora, em tempos pós-modernos, o imperialismo parece estar
terceirizando suas intervenções no exterior. Vejam este texto:
REVOLUÇÃO
À AMERICANA
Natalia Viana, na Pública
O presidente venezuelano Hugo Chávez |
Documentos vazados pelo WikiLeaks mostram
como age uma organização que treina oposicionistas pelo mundo afora – do Egito
à Venezuela
No canto superior do documento, um punho
cerrado estampa a marca da organização. No corpo do texto lê-se: “Há uma
tendência presidencialista forte na Venezuela. Como podemos mudar isso? Como
podemos trabalhar isso?”. Mais abaixo, o leitor encontra as seguintes frases:
“Economia: o petróleo é da Venezuela, não do governo. É o seu dinheiro, é o seu
direito… A mensagem precisa ser adaptada para os jovens, não só para estudantes
universitários… E as mães, o que querem? Controle da lei, a polícia agindo sob
autoridades locais. Nós iremos prover os recursos necessários para isso”.
O texto não está em espanhol nem foi
escrito por algum membro da oposição venezuelana; escrito em inglês, foi
produzido por um grupo de jovens baseados em outro lado do mundo – na Sérvia.
O documento “Análise da situação na
Venezuela, Janeiro de 2010” ,
produzido pela organização Canvas, cuja sede fica em Belgrado, está entre os
documentos da empresa de inteligência Stratfor vazados pelo WikiLeaks.
O último vazamento do WikiLeaks – ao qual
a Pública teve acesso – mostra que o fundador desta organização se correspondia
sempre com os analistas da Stratfor, empresa que mistura jornalismo, análise
política e métodos de espionagem para vender “análise de inteligência” a
clientes que incluem corporações como a Lockheed Martin, Raytheon, Coca-Cola e
Dow Chemical – para quem monitorava as atividades de ambientalistas que se
opunham a elas – além da Marinha americana.
O Canvas (sigla em inglês para “centro
para conflito e estratégias não-violentas”) foi fundado por dois líderes
estudantis da Sérvia, que participaram da bem-sucedida revolta que derrubou o
ditador Slobodan Milosevic em 2000. Durante dois anos, os estudantes
organizaram protestos criativos, marchas e atos que acabaram desestabilizando o
regime.
Depois, juntaram o cabedal de conhecimento
em manuais e começaram a dar aulas a grupos oposicionistas de diversos países
sobre como se organizar para derrotar o governo. Foi assim que chegaram à
Venezuela, onde começaram a treinar líderes da oposição em 2005. Em seu
programa de TV, Hugo Chávez acusou o grupo de golpista e de estar a serviço dos
Estados Unidos. “É o chamado golpe suave”, disse.
Os novos documentos analisados pela
Pública mostram que se Chávez não estava totalmente certo – mas também não
estava totalmente errado.
O começo, na Sérvia
“Foram dez anos de organização estudantil
durante os anos 90” ,
diz Ivan Marovic, um dos estudantes que participaram dos protestos contra
Milosevic. “No final, o apoio do exterior finalmente veio. Seria bobo eu negar
isso. Eles tiveram um papel importante na etapa final. Sim, os Estados Unidos
deram dinheiro, mas todo mundo deu dinheiro: alemães, franceses, espanhóis,
italianos. Todos estavam colaborando porque ninguém mais apoiava o Milosevic”,
disse ele em entrevista à Pública.
“Dependendo do país, eles doavam de um
determinado jeito. Os americanos têm um ‘braço’ formado por ONGs muito ativo no
apoio a certos grupos, outros países como a Espanha não têm e nos apoiavam
através do ministério do exterior”. Entre as ONGs citadas por Marovic
estão o National Endowment for Democracy (NED), uma organização financiada pelo
congresso americano, a Freedom House e o International Republican
Institute, ligado ao partido republicano – ambos contam polpudos financiamentos
da USAID, a agência de desenvolvimento americana que capitaneou movimentos
golpistas na América Latina nos anos 60, inclusive no Brasil.
Todas essas ONGs são velhas conhecidas dos
governos latinoamericanos, incluindo os mais recentes.
Foi o IRI, por exemplo, que ministrou
“cursos de treinamento político” para 600 líderes da oposição haitiana na
República Dominicana durante os anos de 2002 e 2003.
O golpe contra Jean-Baptiste Aristide,
presidente democraticamente eleito, aconteceu em 2004. Investigado pelo
Congresso dos Estados Unidos, o IRI foi acusado de estar por trás de duas
organizações que conspiraram para derrubar Aristide.
Na Venezuela, o NED enviou US$ 877
mil para grupos de oposição nos meses anteriores ao golpe de Estado fracassado
em 2002, segundo revelou o New York Times.
Na Bolívia, segundo
documentos do governo americano obtidos pelo jornalista Jeremy Bigwood,
parceiro da Pública, a USAID manteve um “Escritório para Iniciativas de
Transição”, que investiu US$ 97 milhões em projetos de “descentralização” e
“autonomias regionais” desde 2002, fortalecendo os governos estaduais que se
opõem a Evo Morales.
Procurado pela Pública, o líder do Canvas,
Srdja Popovic, diz que a organização não recebe fundos governamentais de nenhum
país e que seu maior financiador é o empresário sérvio Slobodan Djinovic,
que também foi líder estudantil.
Porém, um PowerPoint de apresentação da
organização, vazado pelo WikiLeaks, aponta como parceiros do Canvas o IRI e a
Freedom House, que recebem vultosas quantias da USAID.
Para o pesquisador Mark Weisbrot, do
instituto Center for Economic and Policy Research, de Washington,
organizações como a IRI e Freedom House “não estão promovendo a democracia”.
“Na maior parte do tempo, estão promovendo
exatamente o oposto. Geralmente promovem as políticas americanas em outros
países, e isto significa oposição a governos de esquerda, por exemplo, ou a
governos dos quais os Estados Unidos não gostam”.
Fase dois: da Bolívia ao Egito
Vista através do mesmo PowerPoint de
apresentação, a atuação do Canvas impressiona. Entre 2002 e 2009, realizou 106
workshops, alcançando 1800 participantes de 59 países. Nem todos são
desafetos americanos – o Canvas treinou ativistas por exemplo na Espanha, no
Marrocos e no Azerbaijão – mas a lista inclui muitos deles: Cuba, Venezuela,
Bolívia, Zimbabue, Bielorrussia, Coreia do Norte, Siria e Irã.
Segundo o próprio Canvas, sua atuação foi
importante em todas as chamadas “revoluções coloridas” que se espalharam por
ex-países da União Soviética nos anos 2000.
Ivan Marovic |
O documento aponta como “casos bem
sucedidos” a transferência de conhecimento para o movimento Kmara em 2003 na
Geórgia, grupo que lançou a Revolução Rosas e derrubou o presidente; uma
ajudinha para a Revolução Laranja, em 2004, na Ucrânia; treinamento de grupos
que fizeram a Revolução dos Cedros em 2005, no Líbano; diversos projetos com
ONGs no Zimbabue e a coalizão de oposição a Robert Mugabe; treinamento de
ativistas do Vietnã, Tibete e Burma, além de projetos na Síria e no Iraque
com “grupos pró-democracia”. E, na Bolívia, “preparação das eleições de 2009
com grupos de Santa Cruz” – conhecidos como o mais ferrenho grupo de
adversários de Evo Morales.
Até 2009, o principal manual do grupo,
“Luta não violenta – 50 pontos cruciais” já havia sido traduzido para 5
línguas, incluindo o árabe e o farsi.
Um das ações do Canvas que ganhou maior
visibilidade foi o treinamento de uma liderança do movimento 6 de Abril,
considerado o embrião da primavera egípcia. O movimento começou a ser
organizado pelo Facebook para protestar em solidariedade a trabalhadores
têxteis da cidade de Mahalla al Kubra, no Delta do Nilo. Foi a primeira vez que
a rede social foi usada para este fim no Egito. Em meados de 2009, Mohammed
Adel, um dos líderes do 6 de Abril viajou até Belgrado para ser treinado por
Popovic.
Nos emails aos analistas da Stratfor,
Popovic se gaba de manter relações com os líderes daquele movimento, em
especial com Mohammed Adel – que se tornou uma das principais fontes
de informação a respeito do levante no Egito em 2011. Na comunicação interna da
Stratfor, ele é mencionado sob o codinome RS501.
“Acabamos de falar com alguns dos nossos
amigos no Egito e descobrimos algumas coisas”, informa ele no dia 27 de janeiro
de 2011. “Amanhã a irmadade muçulmana irá levar sua força às ruas, então
pode ser ainda mais dramático… Nós obtivemos informações melhores sobre estes
grupos e como eles têm se organizado nos últimos dias, mas ainda estamos
tentando mapeá-los”.
Documentos da Stratfor
Os documentos vazados pelo WikiLeaks
mostram que o Canvas age de maneira menos independente do que deseja aparentar.
Em pelo menos duas ocasiões, Srdja Popovic contou por email ter participado de
reuniões no National Securiy Council, o conselho de segurança do governo
americano.
A primeira reunião mencionada aconteceu no
dia 18 de dezembro de 2009 e o tema em pauta era Russia e a
Geórgia. Na época, integrava o NSC o “grande amigo” de Popovic – nas suas
próprias palavras – o conselheiro sênior de Obama para a Rússia, Michael McFaul,
que hoje é embaixador americano naquele país.
No mesmo encontro, segundo Popovic relatou
mais tarde, tratou-se do financiamento de oposicionistas no Irã através de
grupos pró-democracia, tema de especial interesse para ele.
“A política para o Irã é feita no NSC
por Dennis Ross. Há uma função crescente sobre o Irã no Departamento de Estado
sob o Secretário Assistente John Limbert. As verbas para programas
pró-democracia no Irã aumentaram de US$ 1,5 milhão em 2004 para US$ 60 milhões
em 2008 (…) Depois de 12 de junho de 2009, o NSC decidiu neutralizar os
efeitos dos programas existentes, que começaram com Bush. Aparentemente a
lógica era que os EUA não queriam ser vistos tentando interferir na política
interna do Irã. Os EUA não querem dar ao regime iraniano uma desculpa para
rejeitar as negociações sobre o programa nuclear”, reclama o sérvio, para quem
o governo Obama estaria agindo como “um elefante numa loja de louça” com a nova
política.
A "revolução dos cedros" no Líbano |
“Como resultado, o Iran Human Rights
Documentation Center, Freedom House, IFES e IRI tiveram seus pedidos de
recursos rejeitados”, descreve em um email no início de janeiro de 2010.
A outra reunião de Popovic no NSC teria
ocorrido às 17 horas do dia 27 de julho de 2011, conforme Popovic relatou à
analista Reva Bhalla.
“Esses caras são impressionantes”,
comentou, em um email entusiasmado, o analista da Stratfor para o leste
europeu, Marko Papic. “Eles abrem usa lojinha em um país e tentam derrubar o
governo. Quando bem usados são uma arma mais poderosa que um batalhão de
combate da força aérea”.
Marko explica aos seus colegas da Stratfor
que o Canvas – nas suas palavras, um grupo tipo “exporte-uma-revolução” –
“ainda depende do financiamento dos EUA e basicamente roda o mundo
tentando derrubar ditadores e governos autocráticos (aqueles de quem os Estados
Unidos não gostam)”. O primeiro contato com o líder do grupo, que se tornaria
sua fonte contumaz, se deu em 2007. “Desde então eles têm passado inteligência
sobre a Venezuela, a Georgia, a Sérvia etc”.
Em todos os emails, Popovic demonstra
grande interesse em trocar informações com a Stratfor, a quem chama de “CIA de
Austin”. Para isso, vale-se dos seus contatos entre ativistas em diferentes
países. Além de manter relação com uma empresa do mesmo filão ideológico, se
estabelece uma proveitosa troca de informações. Por exemplo, em maio de 2008
Marko diz a ele que soube que a inteligência chinesa estaria considerando
atacar a organização pelo seu trabalho com ativistas tibetanos.
“Isso já era esperado”, responde Srdja. Em
23 de maio de 2011, ele pede informações sobre a autonomia regional dos curdos
no Iraque.
Venezuela
Um dos temas mais frequentes na conversa
com analistas da Stratfor é a Venezuela; Srdja ajuda os analistas a entenderem
o que a oposição está pensando. Toda a comunicação, escreve Marko Papic, é
feita por um email seguro e criptografado. Além disso, em 2010, o líder do
Canvas foi até a sede da Stratfor em Austin para dar
um briefing sobre a situação venezuelana.
“Este ano vamos definitivamente aumentar
nossas atividades na Venezuela”, explica o sérvio no email de apresentação da
sua “Análise da situação na Venezuela”, em 12 de janeiro de 2010.
Para as eleições de setembro daquele ano,
relata que “estamos em contato próximo com ativistas e pessoas que estão
tentando ajudá-los”, pedindo que o analista não espalhe ou publique esta
informação.
O documento, enviado por email, seria a
“fundação da nossa análise do que planejamos fazer na Venezuela”. No dia
seguinte, ele reitera em outro email: “Para explicar o plano de ação que
enviamos, é um guia de como fazer uma revolução, obviamente”.
O documento, ao qual a Pública teve
acesso, foi escrito no início de 2010 pelo “departamento analítico” da
organização e relata, além dos pilares de suporte de Chávez, listando as
principais instituições e organizações que servem de respaldo ao governo (entre
elas, os militares, polícia, judiciário, setores nacionalizados da economia,
professores e o conselho eleitoral), os principais líderes com potencial para
formarem uma coalizão eficiente e seus “aliados potenciais” (entre eles,
estudantes, a imprensa independente e internacional, sindicatos, a federação
venezuelana de professores, o Rotary Club e a igreja católica).
A indicação do Canvas parece, no final,
bem acertada. Entre os principais líderes da oposição que teriam capacidade de
unificá-la estão Henrique Capriles Radonski, governador do Estado de Miranda e
candidato de oposição nas eleições presidenciais de outubro pela coalizão Mesa
de Unidade Democrática, além do prefeito do distrito metropolitano de Caracas,
Antonio Ledezma, e do ex-prefeito do município de Chacao, Leopoldo Lopez
Mendoza.
Dois líderes estudantis, Alexandra
Belandria, do grupo Cambio, e Yon Goicochea, do Movimiento Estudiantil
Venezolano, também são listados.
O objetivo da estratégia, relata o
documento, é “fornecer a base para um planejamento mais detalhado
potencialmente realizado por atores interessados e pelo Canvas”. Esse plano
“mais detalhado” seria desenvolvido posteriormente com “partes interessadas”.
Em outro email Popovic explica:“Quando
alguém pede a nossa ajuda, como é o caso da Venezuela, nós normalmente
perguntamos ‘como você faria?’ (…) Neste caso nós temos três campanhas:
unificação da oposição, campanha para a eleição de setembro (…). Em circunstâncias NORMAIS ,
os ativistas vêm até nós e trabalham exatamente neste tipo de formato em um
workshop. Nós apenas os guiamos, e por isso o plano acaba sendo tão eficiente,
pois são os ativistas que os criam, é totalmente deles, ou seja, é autêntico.
Nós apenas fornecemos as ferramentas”.
Mas, com a Venezuela, a coisa foi
diferente, explica Popovic: “No caso da Venezuela, por causa do completo
desastre que o lugar está, por causa da suspeita entre grupos de oposição e da
desorganização, nós tivemos que fazer esta análise inicial. Se eles irão
realizar os próximos passos depende deles, ou seja, se eles vão entender que
por causa da falta de UNIDADE eles podem perder a corrida eleitoral antes mesmo
que ela comece”.
Aqueles que receberam a análise (como o
pessoal da Strartfor, por exemplo) aprenderam que segunda a lógica do Canvas os
principais temas a serem explorados em uma campanha de oposição na Venezuela
são:
– Crime e falta de segurança: “A situação
deteriorou tremendamente e dramaticamente desde 2006. Motivo para mudança”
– Educação: “O governo está tomando conta
do sistema educacional: os professores precisam ser atiçados. Eles vão ter que
perder seus empregos ou se submeter! Eles precisam ser encorajados e haverá um
risco. Nós temos que convencê-los de que os temos como alta esfera da
sociedade; eles detêm uma responsabilidade que valorizamos muito. Os
professores vão motivar os estudantes. Quem irá influenciá-los? Como nós vamos
tocá-los?”
– Jovens: “A mensagem precisa ser dirigida
para os jovens em geral, não só para os estudantes universitários”.
– Economia: “O petróleo é da Venezuela,
não do governo, é o seu dinheiro, é o seu direito! Programas de bem-estar
social”.
– Mulheres: “O que as mães querem?
Controle da lei, a polícia agindo sob as autoridades locais. Nós iremos prover
os recursos necessários para isso. Nós não queremos mais brutamontes”.
– Transporte: “Trabalhadores precisam
conseguir chegar aos seus empregos. É o seu dinheiro. Nós precisamos exigir que
o governo preste contas, e da maneira que está não conseguimos fazer isso”.
– Governo: “Redistribuição da riqueza,
todos devem ter uma oportunidade”.
– “Há uma forte tendência presidencialista
na Venezuela. Como podemos mudar isso? Como podemos trabalhar com isso?”
No final do email, Popovic termina
com uma crítica grosseira aos venezuelanos que procura articular: “Aliás, a
cultura de segurança na Venezuela não existe. Eles são retardados e falam mais
que a própria bunda. É uma piada completa”.
Procurado pela Pública, o líder do Canvas
negou que a organização elabore análises e planos de ação revolucionária sob
encomenda. E foi bem menos entusiasta com relação ao seu “guia” elaborado para
a Venezuela.
“Nós ensinamos as pessoas a analisarem e
entenderem conflitos não-violentos – e durante o processo de aprendizagem pedimos
a estudantes e participantes que utilizem as ferramentas que apresentam no
curso. E nós também aprendemos com eles! Depois usamos o trabalho que eles
realizaram e combinamos com informações públicas para criar estudos de caso”,
afirmou.
“E isso é transformado em análises mais
longas por dois estagiários. Usamos estas análises nas nossas pesquisas e
compartilhamos com estudantes, ativistas, pesquisadores, professores,
organizações e jornalistas com os quais cooperamos – que estão interessados em
entender o fenômeno do poder popular”.
Questionado, Popovic também respondeu às
criticas feitas por Hugo Chávez no seu programa de TV: “É uma fórmula bem
conhecida… Por décadas os regimes autoritários de todo o mundo fazem acusações
do tipo ‘revoluções exportadas’ como sendo a principal causa dos levantes em
seus países. O movimento pró-democracia na Sérvia foi, claro, acusado de ser
uma ‘ferramenta dos EUA’ pela TV estatal e por Milosevic, antes dos estudantes
derrubarem o seu regime. Isso também aconteceu no Zimbabue, Bielorrusia, Irã…”
O ex-colega de movimento estudantil, Ivan
Marovic – que ainda hoje dá palestras sobre como aconteceu a revolta contra
Milosevic – concorda com ele: “É impossível exportar uma revolução. Eu
sempre digo em minhas palestras que a coisa mais importante para uma mudança
social bem-sucedida é ter a maioria da população ao seu lado. Se o presidente
tem a maioria da população ao lado dele, nada vai acontecer”.
Marovic avalia, no entanto, que houve uma
mudança de percepção do “braço de ONGs” dos governos ocidentais, em especial
dos Estados Unidos, depois da revolução na Sérvia em 2000 e as “revoluções
coloridas” que se seguiram no leste europeu.
“Um mês depois de derrubarmos o Milosevic,
o New York Times publicou um artigo dizendo que quem realmente derrubou o
Milosevic foi a assistência financeira americana. Eles estão aumentando o seu
papel. E agora acreditam que a grana dos Estados Unidos pode derrubar um
governo. Eles tentaram a mesma coisa na Bielorrusia, deram um monte de dinheiro
para ONGs, e não funcionou”.
O pesquisador Mark Weisbrot concorda, em
termos. É claro que nenhum grupo estrangeiro, ainda mais um grupo pequeno, pode
causar uma revolução em um país. Para ele, não é o dinheiro do governo
americano – seja através de ONGs pagas pelo National Security Council, pela
USAID ou pelo Departamento de Estado – que faz a diferença.
“A elite venezuelana, por exemplo, não
precisa deste dinheiro. O que estes grupos financiados pelos EUA, antigamente e
hoje, agregam são duas coisas: uma é habilidade e o conhecimento necessário em
subverter regimes. E a segunda coisa é que esse apoio tem um papel unificador.
A oposição pode estar dividida e eles ajudam a oposição a se unificar”.
Para ele, muitas vezes o patrocínio
americano tem uma “influência perniciosa” em movimentos legítimos. “Sempre tem
pessoas grupos lutando pela democracia nestes países, com uma variedade de
demandas, reforma agrária, proteções sociais, empregos… E o que acontece é que
eles capitaneiam todo o movimento com muito dinheiro, inspirado pelas políticas
que interessam aos EUA. Muitas vezes, os grupos democráticos que recebem o
dinheiro acabam caindo em descrédito”.
Affs estou procurando imaigens da CIA
ResponderExcluir