O programa Dossiê
Globonews, do jornalista Geneton Moraes Neto, levou ao ar uma reveladora
entrevista de Paulo Egídio Martins, ex-governador biônico de São Paulo (1975-1979).
Na entrevista, o ex-governador revela bastidores da luta pelo poder entre facções
militares da ditadura que levou ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas
dependências do II Exército em 25 de outubro de 1975. Egídio diz que está
disposto a depor na Comissão da Verdade. Este trecho da entrevista me pareceu
revelador:
Geneton Moraes Neto – O senhor fez uma reunião com o então
secretário de Cultura, José Mindlin; com o coronel Erasmo Dias,
secretário de segurança; com o diretor do DOPS, Romeu Tuma e com o
representante do SNI, coronel Paiva, para discutir a nomeação do jornalista
Vladimir Herzog para a TV Cultura. Qual foi o resultado da reunião?
Paulo Egídio Martins, ex-governador biônico de São Paulo |
Paulo Egydio Martins – “Quem me trouxe o
problema foi o secretário de Cultura, meu amigo José Mindlin, que disse: ‘Estou
recebendo acusações de ter escolhido, com muitas dificuldades, um responsável pelo Jornal da
Cultura. E esse indivíduo que escolhi agora está sendo acusado – por uma
imprensa marrom – de ser comunista’. Eu não tinha a menor idéia, cá entre nós.
Se a Globo tinha cinqüenta por cento de audiência, o Jornal da
Cultura deveria ter zero vírgula zero um de audiência. Quem era o diretor de
jornal da TV Cultura era algo que não estava na minha cabeça – de jeito
nenhum. Se era comunista, se não era comunista….Virei para Mindlin: ‘O problema
não é meu. É seu. Você resolve como quiser’. E Mindlin: ‘Isso tem me causado
incômodo. Preciso que você verifique se procede alguma coisa ou não’. Numa
reunião, deixei instruções específicas : eu queria ter informações do
Serviço Secreto do Exército , Marinha e Aeronáutica e do SNI sobre se alguma coisa constava
sobre aquele diretor de jornal da TV Cultura – de quem eu nunca ouvido o nome
antes – , chamado Vladimir Herzog. Passaram-se dez, quinze dias. Houve outra
reunião, em que as mesmas pessoas se reportaram a mim: ‘Nós levantamos tudo.
Nada consta, senhor governador’. Eu disse: ‘Mindlin, veja a resposta: se nada
consta, você fica livre para decidir o que quiser. Já cumprimos nossa obrigação
de verificar se procedia uma acusação ou não. Ficou provado que não procede.
Você, agora, aja como quiser agir. Quer manter, mantenha. Não quer manter, não
mantém. Após esse incidente, houve a determinação se ele comparecer ao
DOI-CODI, onde acabou assassinado’”.
Bem, o que chama a atenção nessa revelação tardia de
Paulo Egídio Martins é que quem alertou a repressão sobre a militância de
Herzog no PCB não foram os serviços de inteligência, mas jornalistas dedo-duros.
Havia um crápula notório, de nome Cláudio Marques, diretor do Diário Comércio e
Indústria e colunista nos jornais dominicais Shopping News e City News. Além
disso, ele ocupava 10 miutos diários na TV Bandeirantes de São Paulo,
patrocinados pela Construtora Adolpho Lindenberg. O dono dessa construtora era
Adolpho Lindenberg, que também era diretor da TFP (Tradição, Família e
Propriedade), organização católica ultramontana que combatia os setores progressistas
da Igreja e via comunistas por todo lado.
Em 1975, Marques usou sua coluna várias vezes para
delatar colegas jornalistas, principalmente Vladimir Herzog. Uma delas:
O jornalista Vladimir Herzog |
“A TV Educativa continua uma nau sem rumo. Repercutindo
– pessimamente – o documentário exibido pelo Canal 2, fazendo apologia do
Vietcong. Eu acho que o pessoal do PC da TV Cultura pensa que isso virou um fio.”
(Shopping News, 7/8/75).
O problema é que não era apenas a “mídia marrom” que
dedurava. Outro jornalista que aderiu à campanha de delação iniciada por Cláudio
Marques era um medalhão do Jornal da Tarde e do Estadão, Lenildo Tabosa Pessoa.
No JT de 23/9/75 ele escreveu:
“A infiltração da esquerda contestatória no sistema
e na democracia em vários escalões só não vê quem é conivente e burro. O caso
da TV VietCultura (uma referência à TV Cultura) extrapolou. E muito...”
(Lenildo Tabosa Pessoa, Uma Questão de Horário, JT,
23/9/75).
A adesão dos jornalões foi fundamental para o golpe de
1964 e para a “legitimação” ideológica da ditadura perante amplos setores da
classe média. E o “mau caratismo” de alguns coleguinhas dedo-duros ajudou a
repressão a prender, torturar e matar muitos que se opunham ao regime.
A Comissão da Verdade vai ter muito trabalho.
Que vergonha a comunização da tv cultura com dinheiro do contribuinte e essa comnissão da verdade todos os membros indicados por dilma e totalmente imparcial
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