Não concordo inteiramente com as formulações do autor cujo texto reproduzo abaixo, que no limite nivelam as propostas de Barack Obama e Mitt Romney ao mínimo denominador comum. E aí se cai num radicalismo à la Noam Chomsky, que chegou a dizer que os Estados Unidos são um país de partido único, com duas frações: democratas e republicanos...
Mas é sempre bom refletir sobre os impasses da democracia americana, como fez Tocqueville, principalmente nesta época em que, mais do que nunca, a ideia de representação - e, portanto, de democracia tal como a conhecemos - está em cheque.
EUA: cinco previsões para depois das eleiçoes
2) A guerra contra o meio ambiente vai continuar. Ambos os partidos tratam a questão ambiental da mesma maneira que o trabalho organizado. Os republicanos degradam-no abertamente e os democratas fazem declarações pró-ambientais ao mesmo tempo que praticam o oposto. Quem quer que vença as eleições continuará vinculado aos combustíveis fósseis, continuará a promover as prospecções de petróleo perigosas no Ártico e no Golfo, a causar estragos com a extração de “gás natural”, a construir o oleoduto Keystone, ao mesmo tempo em que pouco ou nada fazem para construir a absolutamente necessária infraestrutura energética alternativa que iria criar empregos e esperança à Humanidade contra as alterações climáticas. Obama e Romney recusam-se a tomar as medidas necessárias para enfrentar as alterações climáticas porque fazê-lo poria em causa os lucros das grandes empresas poluidoras. Nenhum dos candidatos presidenciais sequer dará início a uma honesta discussão pública sobre o problema, fazendo assim com que outros países sigam esse caminho, pondo-nos a todos em perigo.
Alexis de Tocqueville |
EUA: cinco previsões para depois das eleiçoes
Por Shamus Coke - Conterpunch
É verdade que Barack Obama e Mitt Romney têm muitas diferenças políticas. Mas também estão de acordo em muitas políticas essenciais; o suficiente para tornar os próximos quatro anos facilmente previsíveis, seja quem for o vencedor. Eis cinco previsões baseadas nas mais importantes convicções que os dois candidatos partilham:
É verdade que Barack Obama e Mitt Romney têm muitas diferenças políticas. Mas também estão de acordo em muitas políticas essenciais; o suficiente para tornar os próximos quatro anos facilmente previsíveis, seja quem for o vencedor. Eis cinco previsões baseadas nas mais importantes convicções que os dois candidatos partilham:
1) A guerra contra os
sindicatos vai continuar. Os republicanos são explicitamente contra os
sindicatos, enquanto os democratas são a favor em palavras, mas têm uma prática
anti-sindical. A muito falada “Race
to the Top”, política educacional nacional de Obama, atinge diretamente os
sindicatos de professores – os mais poderosos sindicatos do país – atacando os
direitos adquiridos por tempo de serviço e restringindo salários e benefícios.
Também os governadores democratas e republicanos, estado a estado, pretendem arrancar gigantescas concessões dos funcionários públicos ou retirar-lhes os direitos sindicais – a menos má política de exigir concessões (democratas) está apenas um passo atrás do fim da negociação coletiva (republicanos).
À medida que a recessão avança, esta política bipartidária contra os sindicatos irá intensificar-se, qualquer que seja o presidente. O alvo é baixar os salários de todos os trabalhadores, já que, dizem eles, os sindicatos distorcem artificialmente o mercado laboral em benefício dos trabalhadores em geral; atacar os sindicatos é assim um ataque a todos os trabalhadores, organizados ou não, com o objetivo de reduzir os custos laborais das empresas, que ganham assim “lucratividade”.
Também os governadores democratas e republicanos, estado a estado, pretendem arrancar gigantescas concessões dos funcionários públicos ou retirar-lhes os direitos sindicais – a menos má política de exigir concessões (democratas) está apenas um passo atrás do fim da negociação coletiva (republicanos).
À medida que a recessão avança, esta política bipartidária contra os sindicatos irá intensificar-se, qualquer que seja o presidente. O alvo é baixar os salários de todos os trabalhadores, já que, dizem eles, os sindicatos distorcem artificialmente o mercado laboral em benefício dos trabalhadores em geral; atacar os sindicatos é assim um ataque a todos os trabalhadores, organizados ou não, com o objetivo de reduzir os custos laborais das empresas, que ganham assim “lucratividade”.
2) A guerra contra o meio ambiente vai continuar. Ambos os partidos tratam a questão ambiental da mesma maneira que o trabalho organizado. Os republicanos degradam-no abertamente e os democratas fazem declarações pró-ambientais ao mesmo tempo que praticam o oposto. Quem quer que vença as eleições continuará vinculado aos combustíveis fósseis, continuará a promover as prospecções de petróleo perigosas no Ártico e no Golfo, a causar estragos com a extração de “gás natural”, a construir o oleoduto Keystone, ao mesmo tempo em que pouco ou nada fazem para construir a absolutamente necessária infraestrutura energética alternativa que iria criar empregos e esperança à Humanidade contra as alterações climáticas. Obama e Romney recusam-se a tomar as medidas necessárias para enfrentar as alterações climáticas porque fazê-lo poria em causa os lucros das grandes empresas poluidoras. Nenhum dos candidatos presidenciais sequer dará início a uma honesta discussão pública sobre o problema, fazendo assim com que outros países sigam esse caminho, pondo-nos a todos em perigo.
3) Wall Street continuará a
reinar. Durante os debates ficou claro que não era necessária qualquer outra
ação contra Wall Street. Mas os bancos estão maiores sob Obama que na era de
Bush, o que significa que continuam a ser “demasiado grandes para falirem”,
garantindo que haverá futuros resgates pagos pelos contribuintes. A política da
Reserva Federal não é controversa para republicanos ou democratas: as taxas de
juros baixas combinadas com a emissão de largas somas de moeda – chamado de “quantitative easing” – ambas têm servido aos lucros dos
bancos de Wall Street, ao mesmo tempo em que todos os restantes sofrem cortes
nos salários e benefícios. Os empréstimos aos trabalhadores não foram
facilitados, enquanto os bancos e as empresas estão literalmente sentados sobre
biliões de dólares de reservas em dinheiro.
4) Cortes de austeridade
nacionais após as eleições. O déficit nacional é consequência do resgate aos
bancos, às guerras externas e a décadas de sucessivas reduções dos impostos aos
ricos e às empresas. Obama e Romney ignoram estes fatos, e são a favor de
reduções maciças de empregos e cortes nos programas sociais que entrarão em
vigor se republicanos e democratas não chegarem a acordo sobre quantos bilhões
de dólares de cortes vão aplicar (a proposta de plano de corte de déficit de
Obama seria de US$ 4 bilhões; Paul Ryan quer US$ 6 bilhões).
E apesar de Obama ter feito muito barulho sobre “cobrar impostos aos ricos” para ajudar a combater o déficit, as mesmas promessas foram feitas nas eleições anteriores e acabaram em nada quando ele mesmo manteve as reduções de impostos que Bush promovera para os ricos. Fazer com que os ricos paguem impostos é a única alternativa aos cortes, já que os trabalhadores pouco têm para pagar mais. Em vez disso, Obama está usando o déficit para justificar cortes maciços do Medicare, na educação pública, no subsídio de desemprego, e provavelmente noutros programas da Segurança Social. O debate de Obama/Romney sobre o déficit é, na realidade, uma discussão bem educada sobre como melhor cortar e queimar programas sociais, ao mesmo tempo em que as diferenças são exageradas para o bem das respetivas campanhas eleitorais.
E apesar de Obama ter feito muito barulho sobre “cobrar impostos aos ricos” para ajudar a combater o déficit, as mesmas promessas foram feitas nas eleições anteriores e acabaram em nada quando ele mesmo manteve as reduções de impostos que Bush promovera para os ricos. Fazer com que os ricos paguem impostos é a única alternativa aos cortes, já que os trabalhadores pouco têm para pagar mais. Em vez disso, Obama está usando o déficit para justificar cortes maciços do Medicare, na educação pública, no subsídio de desemprego, e provavelmente noutros programas da Segurança Social. O debate de Obama/Romney sobre o déficit é, na realidade, uma discussão bem educada sobre como melhor cortar e queimar programas sociais, ao mesmo tempo em que as diferenças são exageradas para o bem das respetivas campanhas eleitorais.
5) As guerras externas vão continuar.
Ouvir Obama e Romney a debater as guerras externas foi muito semelhante a um
debate do tipo Pepsi/Coca-Cola. Ambos amam Israel, odeiam o Irã e a Síria,
mentem sobre um calendário para o Afeganistão (nenhum analista sério acredita
que os EUA saiam do Afeganistão em 2014). Ambos são a favor de continuar a
bombardear com drones o Paquistão, o Iêmen e a Somália,o que constitui
obviamente crime de guerra. Ao mesmo tempo, ambos acusam hipocritamente a Síria
de “violações dos direitos humanos”. Em resumo, ambos candidatos discutem como
melhor empurrar o Médio Oriente e o Norte de África na direção de uma guerra
regional, sem receberem as culpas por isso.
Na verdade, existem sim diferenças de política social entre o presidente Obama e Mitt Romney. Mas as políticas descritas acima vão afetar profundamente todos os trabalhadores dos Estados Unidos. O país não está numa recessão típica. A maioria dos economistas concorda que, na melhor das hipóteses, os EUA podem esperar uma “década perdida” de estagnação econômica – na pior, um duplo mergulho na recessão/depressão.
As políticas descritas acima estão desenhadas tendo em conta o pior cenário, com a premissa de que para que o capitalismo se reestabilize, é necessário aumentar o poder dos bancos e das empresas, que têm de perder quaisquer restrições em relação à questão laboral, ambiental, e outras regulamentações, de forma a aumentarem os seus lucros, em detrimento de todos nós.
Assim, democratas e republicanos têm a mesma agenda na generalidade, uma agenda que todos os trabalhadores deveriam considerar detestável, já que os ganhos das grandes empresas são obtidos à nossa custa. Quando os trabalhadores se organizam e vão à luta, como fizeram os professores de Chicago, todas as ilusões nos democratas começam a desvanecer-se, porque as pessoas vêem com os próprios olhos que os democratas não só se recusam a ajudá-las, mas se lhes opõem ativamente, tal como fizeram aos professores de Chicago. Acontecimentos como este permitirão a emergência de um movimento real que ponha em causa a agenda bipartidária dominada pelos grandes negócios.
Até que os grupos de trabalhadores e comunitários se unam numa base alargada em ações independentes contra a citada agenda bipartidária, seremos sempre arrastados ao apoio a um dos dois candidatos, nenhum dos quais defende os nossos interesses básicos.
(*) Shamus Cooke é trabalhador do serviço social, sindicalista e escreve para o Workers Action.
Na verdade, existem sim diferenças de política social entre o presidente Obama e Mitt Romney. Mas as políticas descritas acima vão afetar profundamente todos os trabalhadores dos Estados Unidos. O país não está numa recessão típica. A maioria dos economistas concorda que, na melhor das hipóteses, os EUA podem esperar uma “década perdida” de estagnação econômica – na pior, um duplo mergulho na recessão/depressão.
As políticas descritas acima estão desenhadas tendo em conta o pior cenário, com a premissa de que para que o capitalismo se reestabilize, é necessário aumentar o poder dos bancos e das empresas, que têm de perder quaisquer restrições em relação à questão laboral, ambiental, e outras regulamentações, de forma a aumentarem os seus lucros, em detrimento de todos nós.
Assim, democratas e republicanos têm a mesma agenda na generalidade, uma agenda que todos os trabalhadores deveriam considerar detestável, já que os ganhos das grandes empresas são obtidos à nossa custa. Quando os trabalhadores se organizam e vão à luta, como fizeram os professores de Chicago, todas as ilusões nos democratas começam a desvanecer-se, porque as pessoas vêem com os próprios olhos que os democratas não só se recusam a ajudá-las, mas se lhes opõem ativamente, tal como fizeram aos professores de Chicago. Acontecimentos como este permitirão a emergência de um movimento real que ponha em causa a agenda bipartidária dominada pelos grandes negócios.
Até que os grupos de trabalhadores e comunitários se unam numa base alargada em ações independentes contra a citada agenda bipartidária, seremos sempre arrastados ao apoio a um dos dois candidatos, nenhum dos quais defende os nossos interesses básicos.
(*) Shamus Cooke é trabalhador do serviço social, sindicalista e escreve para o Workers Action.
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