Henning Boilesen, um dos financiadores da repressão |
A Comissão da Verdade
resolveu colocar o dedo numa das feridas mais malcheirosas do Brasil: ela vai
investigar o financiamento de grandes empresas e de empresários à repressão
política. Esse financiamento permitiu à ditadura, no início dos anos
1970, racionalizar e sistematizar os esforços de repressão política, antes
esparsos e descentralizados. Nascia assim a Oban – Operação Bandeirante –,
embrião dos famigerados DOI-Codis, responsáveis pela tortura e morte sistemáticas
de centenas de militantes e combatentes contra a ditadura.
Henning Albert Boilesen e
Peri Igel (Grupo Ultra); Sebastião Camargo (Camargo Correa); Amador Aguiar
(Bradesco); Adolpho Lindenberg (Construtora Lindenberg); Gastão Eduardo Bueno
Vidigal (Mercantil); as empresas Ford, GM, Ultragás, Mappin e os bancos
Mercantil de São Paulo e o Sudameris, entre outros, foram alguns dos principais
financiadores da Oban. Entre os poucos empresários que se recusaram a colaborar
estavam José Midlin (Cofap) e Antonio Ermírio de Moraes (Votorantin).
A Oban foi constituída em
1969 como um centro de informações, investigações e torturas que integrava
elementos das Forças Armadas e da polícia estadual para o trabalho de combate à
“subversão”. O órgão foi montado entre as ruas Tomás Carvalhal e Tutóia, nos
fundos do 36º DP de São Paulo. Participaram do lançamento o governador Roberto
de Abreu Sodré, o prefeito Paulo Maluf, o secretário de Segurança Pública, Hely
Lopes Meirelles, o comandante do II Exército, general José Canavarro Pereira, e
os comandantes do VI Distrito Naval e da 4ª Zona Aérea.
Herzog assassinado no DOI-Codi |
A Oban foi integrada depois
na estrutura do DOI-Codi do II Exército, que ficaria conhecido como “o porão
dos porões”. Por lá passaram 6.700 pessoas, das quais centenas foram torturadas
e 50 assassinadas, entre elas o jornalista Vladimir Herzog, em 1975, e o
operário Manuel Fiel Filho, em 1976. As mortes destes dois últimos levaram o general
Geisel a demitir o comandante do II Exército, general Ednardo Dávila Mello. O
mais famoso chefe do DOI-Codi foi o major Carlos Alberto Brilhante Ustra, até
agora o único torturador da ditadura processado pela Justiça no Brasil.
Figueiredo e Médici: mandantes |
Outro grande passo dado pela
Comissão da Verdade foi a determinação de se buscar a cadeia de comando que
ordenou o sequestro, tortura, morte e desaparecimento de militantes. A Comissão
partiu da constatação que os policiais e militares que participaram das
operações não agiam por conta própria, mas cumpriam ordens dentro de uma
estrutura hierárquica. “A tortura foi uma política de Estado durante a
ditadura”, lembrou o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro. Para ele, não interessam
à Comissão apenas informações sobre os agentes acusados de violações de
direitos humanos, em grande parte conhecidos. “Queremos saber de onde vinham as
ordens para a execução dessa política”.
Veja o filme "Cidadão Boilensen", sobre o empresário de origem dinamarquês que se envolveu de corpo e alma com a repressão e foi "justiçado" por guerrilheiros da ALN.
Veja o filme "Cidadão Boilensen", sobre o empresário de origem dinamarquês que se envolveu de corpo e alma com a repressão e foi "justiçado" por guerrilheiros da ALN.
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