Wanderley Guilherme dos Santos |
O cientista político
Wanderley Guilherme dos Santos disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que
o julgamento do mensalão será um “julgamento de exceção”. Isso porque os juízes
do Supremo Tribunal Federal – a começar pelo relator do processo, ministro
Joaquim Barbosa – estão condenando
os réus com um discurso paralelo ao das tradições da corte. São condenações feitas
com base em princípios duvidosos, como o “domínio do fato”, sem a fundamentação
das decisões em provas concretas, mas em cima de meras evidências e ilações,
como por exemplo, a de que, se houve aprovação de projetos de interesse do
governo em determinado período, com as reformas da previdência e tributária, é
porque houve mensalão. “A votação da reforma tributária não foi unânime, mas vários
votos do PSDB e do DEM foram iguais aos governistas. Na reforma previdenciária,
o PSDB votou unanimemente junto com o governo, na época o PFG também voto quase
unanimemente. [...] É um erro de análise inaceitável pegar a votação de um
partido e dizer que o voto foi comprado”, diz o professor.
Ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão |
Por isso, contrariando vários
outros analistas, Wanderley Guilherme diz que o julgamento do mensalão não será
emblemático nem criará jurisprudência: “Acho que nunca mais vai acontecer. Até
os juristas estão espantados com a quantidade de inovações que esse julgamento
está propiciando, em vários ouros pontos, além da teoria do domínio do fato. Nunca
vi um julgamento que inovasse em tantas coisas ao mesmo tempo. Duvido que um
julgamento como esse aconteça de novo em relação a qualquer outro episódio
semelhante”. E ele acrescenta: “Nunca mais haverá um julgamento em que se fale
sobre flexibilização do uso de provas, sobre transferência do ônus da prova aos
réus, não importa o que aconteça. Todo mundo pode ficar tranqüilo porque não vai
acontecer de novo, é um julgamento de exceção”.
Fouquier-Tinville, promotor do Terror |
Bem, confesso que não ficarei
tranqüilo nem se não acontecer de novo, nem se acontecer. Se não acontecer,
tudo não terá passado de um episódio estarrecedor, com o Supremo mudando regras
consagradas pelo Direito para dar satisfação à opinião pública e à mídia e fazer
um “julgamento exemplar”, condenando um partido mais por seus vínculos com os
setores excluídos da população do que por seus desvios políticos, comuns a todos
os demais. Neste caso, os procedimentos não se repetiriam quando outros partidos forem - se é que serão - julgados. Mas, se ocorrer o contrário e se criar jurisprudência, teremos
institucionalizados esses procedimentos duvidosos e novidadeiros criados pelo
Supremo, o que tornaria a exceção permanente.
Ambas as hipóteses são situações de dar inveja a Fouquier-Tinville, o implacável promotor do Terror na fase jacobina da Revolução Francesa.
Ambas as hipóteses são situações de dar inveja a Fouquier-Tinville, o implacável promotor do Terror na fase jacobina da Revolução Francesa.
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