A Lei 7.524, de 17 de julho de 1986, diz o seguinte:
Em 1955, o general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra, teve que por as tropas na rua para conjurar a tentativa de militares e civis de impedir a posse do presidente democraticamente eleito, Juscelino Kubitschek. Em 1964, o fato de Jango ignorar a quebra de hierarquia na Marinha, prestigiando os marinheiros sublevados, contribuiu mais do que qualquer outra coisa para desencadear o golpe de 1º de abril.
"Artigo 1º - Respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público."
Já o manifesto dos militares da reserva diz textualmente:
“Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do Manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade".
Ou seja: não é que esses gorilas de pijama estejam simplesmente emitindo sua opinião a respeito do governo; eles simplesmente NÃO RECONHECEM autoridade ou legitimidade ao seu superior hierárquico, o ministro da Defesa, Celso Amorim. E isso tem um nome: INSUBORDINAÇÃO, delito que é pecado mortal em qualquer instituição militar. Em qualquer lugar do mundo, Forças Armadas são baseadas na DISCIPLINA e na HIERARQUIA. E é por isso que esses oficiais têm que ser punidos, sob pena de se quebrar a cadeia de comando das Forças Armadas.
Ele fala; eles têm que ouvir. E, acima de tudo, obedecer |
Aliás, toda vez que a disciplina e a hierarquia das Forças Armadas foram desrespeitadas, o país mergulhou em crises institucionais, tentativas de golpes ou golpes mesmo. Em 1954, por exemplo, Tancredo Neves, então ministro da Justiça, queria prender os brigadeiros que instalaram, à margem das instituições e da lei, a “República do Galeão” para investigar o assassinato do major Rubens Vaz. Getúlio não quis, a pressão militar (e civil, evidentemente) aumentou e ele acabou se suicidando para não ser deposto.
Tancredo (esq.) queria prender brigadeiros |
O general Henrique Teixeira Lott |
O ditador-general Ernesto Geisel |
Os próprios ditadores militares, que conheciam melhor do que ninguém a liturgia da disciplina e hierarquia, quebraram a cara quando não as observaram, deixando seus subordinados subvertê-las. Castello Branco viu seu ministro da Guerra, Costa e Silva, se impor a ele como sucessor; Costa e Silva cedeu à pressão do Alto Comando e baixou o AI-5, fechando o Congresso, cassando parlamentares a dando carta branca à repressão. Figueiredo não teve coragem de peitar a linha-dura depois do Riocentro e ficou a reboque de seus pares. Apenas Ernesto Geisel, o “alemão”, impôs sua condição de comandante-em-chefe à caserna, e o fez em duas ocasiões cruciais: na primeira, em 1976, quando demitiu o comandante do II Exército depois de assassinatos consecutivos de presos políticos no DOI-Codi de São Paulo; depois, em 1977, quando afastou o ministro do Exército, que ameaçava se tornar o “candidato” à sucessão presidencial.
Brizola (à dir.) e o general Machado Lopes, do III Exército |
Houve uma exceção à essa regra, é verdade: em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, os chefes militares se articularam para “vetar” a posse do vice-presidente constitucional, João Goulart, acusado de "comunista". Foram impedidos pela Campanha da Legalidade, do então governador Leonel Brizola, que levou o III Exército a apoiar os legalistas, rachando o Exército. Foi a única vez que a quebra de hierarquia se fez em benefício da legalidade. Mas, na verdade, foram os chefes militares que violaram a hierarquia e a disciplina ao pretender vetar uma posse prevista na Constituição.
Na democracia, os militares são subordinados ao poder civil: pela ordem, ao presidente da República, ao ministro da Defesa e aos comandantes de cada força. No serviço ativo, os militares não têm que dar palpite na política. Quem decide sobre leis, revisão de leis – como a da Anistia – Comissão da Verdade e outros assuntos são os poderes Legislativo e Executivo legitimamente constituídos. Aos militares cabe apenas bater continência. Na reserva, eles podem expressar suas opiniões, mas ainda assim devem obediência aos seus superiores hierárquicos.
Acima de tudo, é preciso enterrar de vez essa pretensão messiânica do estamento militar de achar que representa os “anseios da nação” e que está acima do bem e do mal. Levada ao paroxismo na época da Guerra Fria e da ditadura, essa concepção, na verdade, tem suas origens no pensamento do general Góes Monteiro, líder militar da Revolução de 1930. Ele dizia que era preciso acabar com a “política no Exército” – as rebeliões tenentistas que culminaram na Revolução de 1930 – para substituí-la pela “política do Exército”. Esta se impôs no Estado Novo, se consolidou na ditadura militar e sobreviveu na democracia, perpassando até hoje o discurso dos saudosistas da Doutrina de Segurança Nacional.
General Góes Monteiro |
Discurso de platéia, as Forças Armadas tem que opinar sim. Outra coisa, o General Geisel não era um ditador e graças a ele que chegamos na democracia que temos hoje e não na ditadura comunista que vocês comunistas queriam. Eu como oficial do Exército não reconheço a autoridade do Ministro da Defesa. Comunista de merda!
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