Costa e Silva, Castello e Geisel |
Rodovia Castello Branco |
Elevado Costa e Silva, o "minhocão" |
Você já imaginou a cidade do Porto, em Portugal, cortada por uma ponte chamada “António de Oliveira Salazar”? Ou uma via elevada “General Jorge Rafael Videla” em Buenos Aires? Ou ainda uma “praça coronel George Papadopoulos” no charmoso bairro de Plaka, em Atenas? Pois aqui no Brasil nós homenageamos todos os ditadores militares: Castello Branco dá nome a uma das principais rodovias de São Paulo (a SP-280) e a uma rua de Porto Alegre; Presidente Costa e Silva é o nome oficial do popular “minhocão” e da Ponte Rio-Niterói.
Médici, ao lado de Figueiredo (de quepe) na Transamazônica |
O sombrio general Médici dá nome a uma avenida em São Paulo e, no Pará, existe uma cidade chamada Medicilândia (!), nascida no tempo da Transamazônica e do “Brasil Grande”. Em Campo Grande temos uma Avenida presidente Ernesto Geisel e no Amazonas uma cidade chamada Presidente Figueiredo. O coronel Sebastião Curió, que atuou na repressão à guerrilha do Araguaia e no garimpo de Serra Pelada e está sendo denunciado pelo Ministério Público, dá nome a uma cidade (Curionópolis), no Pará. Em SP, o general Milton Tavares, chefe do antigo CIEx (Centro de Informações do Exército) e um dos responsáveis pela implantação da Operação Bandeirante e dos DOI-Codi durante a ditadura militar, é nome de uma ponte (por obra do Maluf). Aqui na Vila Leopoldina há uma rua que leva o nome do delegado Sérgio Paranhos Fleury, o torcionário-mór da ditadura.
Dan Mitrione, professor de tortura |
Como disse o historiador Gilberto Maringoni, não há na Alemanha rua, monumento ou edifício público homenageando Adolf Hitler, ou um aeroporto Herman Göring (ás da aviação na I Guerra Mundial) ou um viaduto Joseph Göbbels; como não há na Itália monumentos públicos homenageando Mussolini. Eu poderia acrescentar: nem pontes na França com o nome do marechal Pétain ou do premiê Pierre Laval (chefes do regime colaboracionista de Vichy). A Espanha, depois de muito tempo, finalmente retirou o nome do generalíssimo Francisco Franco (“Caudillo de España por la Gracia de Dios") dos logradouros públicos, embora o Vale de Los Caídos – espécie de Disneylândia da direita – ainda subsista.
Temos que acabar com essa condescendência imoral. E sem essa de “revanchismo”; trata-se de resgatar nossa memória histórica. Algumas cidades já deram o exemplo. São Carlos, no interior paulista, há dois anos mudou o nome de uma rua denominada Sérgio Fleury para D. Helder Câmara. No Rio de Janeiro, o deputado Chico Alencar (Psol), a pedido de entidades de defesa dos direitos humanos, apresentou um projeto de lei para mudar o nome da ponte Rio-Niterói para Betinho, o sociólogo que se tornou símbolo da luta contra a fome. Segundo o deputado, “é inaceitável que a popularmente chamada Ponte Rio-Niterói seja oficialmente denominada Ponte Presidente Costa e Silva, em homenagem a um chefe de Estado que foi um dos artífices do golpe militar, responsável por momentos dos mais sombrios da história brasileira como o que se inicia com a edição do famigerado Ato Institucional nº 5”. Em Porto Alegre há um Projeto de Lei para mudar o nome da Avenida Presidente Castello Branco para Avenida da Legalidade – o movimento democrático que abortou a tentativa dos chefes militares de impedir a posse de João Goulart em 1961.
Em tempos de Comissão da Verdade, está mais do que na hora de passar a limpo nossa história recente. Pelo menos isso.
Livro sobre o agente Dan Mitrione, executado pelos Tupamaros
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