A bancada evangélica no Congresso está em vias de unir-se à bancada ruralista para votar duas matérias importantes: a Lei Geral da Copa e o Código Florestal. A iniciativa partiu dos primeiros, dispostos a derrubar o dispositivo da Lei da Copa que permite a venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante os jogos do mundial de 2014. Em troca, os evangélicos apoiariam os ruralistas, votando o substitutito do deputado Paulo Piau, que modificou o texto aprovado no Senado em favor dos desmatadores. Os evangélicos também estão ameaçando usar o chamado 'kit gay', material anti-homofObia encomendado - e retirado, sob pressão - pelo Ministério da Educação, contra o ex-ministro Fernando Haddad, pré-canditato do PT à Prefeitura de São Paulo. Além disso, a bancada evangélica faz duras críticas à ministra Eleonora Menicucci (Política para Mulheres), ex-guerrilheira que se posicionou favoravelmente ao aborto.
Até aqui, parece tudo normal; pressões e alianças fazem parte do jogo democrático. Mas, se olharmos com mais atenção para alguns episódios recentes, ficamos com a impressão de que uma profunda onda conservadora vem tomando conta do país, com a complacência - quando não o aplauso - da chamada sociedade civil. Senão, vejamos: o manifesto dos militares da reserva, se rebelando contra a instalação da Comissão da Verdade pelo governo e se insubordinando contra a autoridade do ministro da Defesa, Celso Amorim; a recusa da Justiça do Pará de processar o coronel da reserva Sebastião Curió, a pedido do Ministério Público Federal, por ações de sequestro durante a Guerrilha do Araguaia; e a reação de desembargadores gaúchos e da Igreja Católica contra a decisão do Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul de retirar os crucifixos das salas para preservar a laicidade do Estado.
Dom Luiz Bergonzini |
General Adhemar |
Ao proferir uma conferência no ultraconservador Instituto Plínio Correa de Oliveira sobre os problemas do Exército, o general Adhemar da Costa Machado Filho, comandante militar do Sudeste, frustou seus interlocutores de extrema direita ao dizer que a agitação da reserva não se reflete entre os oficiais da ativa, mais preocupados com a profissionalização. Ao responder a uma pergunta da plateia, o general declarou: "Dias atrás me perguntaram: 'general, quando os senhores voltam?' Respondi: 'Nunca mais. O Brasil mudou'". Menos mal. Por outro lado, eu me pergunto: que diabos um general de quatro estrelas da ativa, com comando de tropa, estava fazendo numa sociedade herdeira da TPF, que defende a ditadura militar a volta ao regime do padroado?
São fatos de indicam um movimento coordenado para impor à toda sociedade pontos de vista de uma parcela da população, passando por cima das regras do Estado Democrático de Direito. Os militares pretendem se colocar acima da lei e da Constituição ao se recusarem a aceitar determinações emanadas do poder legitimamente constituído; os religiosos trabalham para acabar com a separação Estado-Igreja, que é um dos pilares da República.
O pior é que não vejo nenhuma reação expressiva por parte dos partidos ditos progressistas contra tais atitudes. A exemplo do que se viu na última eleição, a maior preocupação dos políticos "de esquerda", que deveria ser a defesa intrangisente dos ideais democráticos e republicanos, tem sido a preocupação em não melindrar as igrejas, para não perder votos, e não se indispor contra os militares, supostamente para preservar a estabilidade política, mas na verdade para manter o pacto de silêncio sobre os crimes da ditadura imposto pela caserna na transição negociada. Note-se que não estou falando de defender bandeiras características da esquerda, mas somente de valores liberais e democráticos, como a liberdade de expressão e a subordinação dos militares ao poder civil legitimamente constituído.
Hitler: porrada, sabotagem política e conquista de corações e mentes. |
O que me incomoda é o fato de os setores progressistas não estarem esboçando qualquer reação à altura a essa ofensiva conservadora. Claro, não é para ficar alarmado, ainda. Um retrocesso institucional não está no horizonte. Mas é bom lembrar que o fascismo avançou não apenas com a violência nas ruas, mas também de maneira insidiosa, conquistando corações e mentes e solapando por dentro as instituições democráticas.
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