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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

FREI CANECA, O FRADE REVOLUCIONÁRIO


Joaquim da Silva Rabelo (1779-1825), mais conhecido como Frei Caneca, foi um dos grandes revolucionários brasileiros do século XIX. Personagem esquecido da história oficial, ele esteve envolvido na Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador (1824), movimentos que queriam romper definitivamente com as elites portuguesas e implantar uma república democrática no país. Como jornalista editou o Typhis Pernambucano, porta-voz da Confederação e referência a Typhis da mitologia grega, piloto do navio Argo. A epígrafe do jornal eram estes versos de Camões de Os Lusíadas:

"Uma nuvem que os ares escurece
sobre nossas cabeças aparece"


Com a derrota da Confederação do Equador, Frei Caneca foi condenado à morte e fuzilado em 13 de janeiro de 1825.

Abaixo, trechos da peça O Auto do Frade (1984), de João Cabral de Melo Neto.    


Ele jamais fez por onde,
sequer desejou, ser mártir.
Assim, morto, e aqui esquecido
não é coisa que o agrave.
Talvez sentisse que o mártir
tem sempre um lado podrido
e que ser mártir
vem com a mania ou o vício,
enfim, com o gosto de crer-se
já um além mártir, messias:
neurose que não sofreu,
crioulo e enciclopedista
(o que não o salvou do martírio,
salvou-o de ver-se mártir
e trouxe-lhe a honra de ter
nome na rua de um cárcere).

[...]


Esse bosque de espingardas
Mudas, mas logo assassinas,
Sempre à espera dessa voz
Que autorize o que é sua sina,
Esses padres que as invejam
por serem mais efetivas
que os sermões que passam largo
dos infernos que anunciam.

[...]

– Acordar não é de dentro,
acordar é ter saída.
Acordar é reacordar-se
ao que em nosso redor gira.

[...]

Nunca pensei que tal mundo
com sermões o implantaria
Sei que traçar no papel
é mais fácil que na vida.
Sei que o mundo jamais é
a página pura e passiva.

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