O artigo sobre a Argentina do ex-tucano Bresser-Pereira, publicado hoje na Folha, vai contra a corrente dos
mortos-vivos ou viúvas do neoliberalismo tupiniquim e defende sem peias a nacionalização
da YPF. Aliás, é incrível como essas viúvas agem como se ainda vivêssemos nos
anos 1990, quando o Consenso de Washington imperava soberano e sem contestação e
como se a crise que começou em 2008 nunca tivesse ocorrido. As viúvas de
Margaret Thatcher são piores e mais ressentidas do que as viúvas da revolução; a Veja que o diga...
A Argentina tem razão
Luís
Carlos Bresser-Pereira
"A Argentina se colocou novamente sob a mira do
Norte, do 'bom senso' que emana de Washington e Nova York, e decidiu retomar o
controle do Estado sobre a YPF, a grande empresa petroleira do país que estava
sob o controle de uma empresa espanhola. O governo espanhol está indignado, a
empresa protesta, ambos juram que tomarão medidas jurídicas para defender seus
interesses. O Wall Street Journal afirma que 'a decisão vai prejudicar ainda
mais a reputação da Argentina junto aos investidores internacionais'. Mas,
pergunto, o desenvolvimento da Argentina depende dos capitais internacionais,
ou são os donos desses capitais que não se conformam quando um país defende
seus interesses? E, no caso da indústria petroleira, é razoável que o Estado
tenha o controle da principal empresa, ou deve deixar tudo sob o controle de
multinacionais?
Em relação à segunda pergunta parece que hoje os
países em desenvolvimento têm pouca dúvida.
Quase todos trataram de assumir esse controle; na
América Latina, todos, exceto a Argentina.
Não faz sentido deixar sob controle de empresa
estrangeira um setor estratégico para o desenvolvimento do país como é o
petróleo, especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros e
aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola.
Além disso, já foi o tempo no qual, quando um país
decidia nacionalizar a indústria do petróleo, acontecia o que aconteceu no Irã
em 1953. O Reino Unido e a França imediatamente derrubaram o governo
democrático que então havia no país e puseram no governo um xá que se pôs
imediatamente a serviço das potências imperiais.
Mas o que vai acontecer com a Argentina devido à
diminuição dos investimentos das empresas multinacionais? Não é isso um 'mal
maior'? É isso o que nos dizem todos os dias essas empresas, seus governos,
seus economistas e seus jornalistas. Mas um país como a Argentina, que tem
doença holandesa moderada (como a brasileira) não precisa, por definição, de
capitais estrangeiros, ou seja, não precisa nem deve ter déficit em conta
corrente; se tiver déficit é sinal que não neutralizou adequadamente a
sobreapreciação crônica da moeda nacional que tem como uma das causas a doença
holandesa.
A melhor prova do que estou afirmando é a China,
que cresce com enormes superávits em conta corrente. Mas a Argentina é também
um bom exemplo. Desde que, em 2002, depreciou o câmbio e reestruturou a dívida
externa, teve superávits em conta corrente. E, graças a esses superávits, ou
seja, a esse câmbio competitivo, cresceu muito mais que o Brasil. Enquanto,
entre 2003 e 2011 o PIB brasileiro cresceu 41%, o PIB argentino cresceu 96%.
Os grandes interessados nos investimentos diretos
em países em desenvolvimento são as próprias empresas multinacionais. São elas
que capturam os mercados internos desses países sem oferecer em contrapartida
seus próprios mercados internos. Para nós, investimentos de empresas multinacionais só interessam quando trazem tecnologia, e a repartem conosco.
Não precisamos de seus capitais que, em vez de aumentarem os investimentos
totais, apreciam a moeda local e aumentam o consumo. Interessariam se
estivessem destinados à exportação, mas, como isso é raro, eles geralmente
constituem apenas uma senhoriagem permanente sobre o mercado interno nacional."
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O premiê espanhol Mariano Rajoy |
E aqui, um post tirado do
blog do Brizola Neto sobre a hipocrisia da direita espanhola, atual porta-voz
de um dos capitalismos mais rapaces do planeta. Além do óbvio, o vídeo nos
lembra que, no poder, a esquerda e a direita europeia têm implementado, com
nuances, a mesma política neoliberal.
Um país de 5ª, señor Rajoy?
O jornal argentino La Nación publicou uma de jogar por terra toda a
pseudoindignação do governo espanhol com a reestatização da petroleira
argentina YPF, em mãos da espanhola Repsol.
Quando,
em 2008, se tratou da compra de parte da Repsol pela russa Lukoil, o hoje
primeiro-ministro Mariano Rajoy, então na oposição, disse – aliás, com toda a
razão – que “nosso petróleo, nosso gáse nossa energía não poem ser
entregues a uma empresa russa porque isso nos converteria em um país de
quinta categoria”.
Hoje,
ele estrila e ameaça de todas as formas o governo Cristina Kirchner por ter
feito aquilo que ele próprio defendia para a Espanha.
A
Argentina, señor Rajoy, seria um país de 5ª categoria?
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