Claude Hollande: que concessões ele fará para ganhar voto? |
Há um dado que salta aos
olhos nas eleições da França: a força crescente da extrema direita xenófoba no
país que foi o berço do Iluminismo e da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Marine
Le Pen, candidata do Front National, teve 18% dos votos; o socialista François
Hollande, 28,63%, e o presidente Nicolas Sarkozy, 27,17%. Em 2002, o pai de
Marine, Jean-Marie Le Pen, com uma votação menor do que a filha (16,86%), desbancou o socialista Lionel Jospin, ficando apenas três pontos percentuais
atrás do gaullista Jacques Chirac. No segundo turno, o temor da extrema direita
deu uma vitória esmagadora a Chirac, que venceu com 82% - porcentagem maior do que a de Luís Bonaparte.
Marine Le Pen, candidata da extrema direita |
Sarkozy foi o primeiro
presidente da V República a receber menos votos do que um candidato da oposição no
primeiro turno. Alguns analistas apressados dizem que ele é rejeitado pelos
franceses por ser o primeiro estadista francês do pós-guerra a se assumir
abertamente uma postura de direita, num país onde se dá de barato que a esquerda há décadas venceu o debate intelectual. Ora, isso está longe de ser verdade, como mostra a
influência no debate eleitoral de temas caros aos herdeiros de Vichy – como a “islamização” da
França e a “ameaça” representada pelos imigrantes.
A França, na verdade, sempre
foi uma nação ideologicamente fraturada. Depois das revoluções de 1789, 1830,
1848 e 1871, um episódio menor – a falsa acusação de traição contra um oficial
judeu do Exército, Alfred Dreyfus, em 1894 –, teve o condão de mergulhar o país em outra luta política fratricida, que opôs antissemitas, clericais, militaristas e
monarquistas a anticlericais, democratas, socialistas e radicais republicanos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, repetiu-se a divisão, com grande parte da
França apoiando o governo colaboracionista do marechal Pétain e uma minoria
apoiando a resistência antinazista comandada pelo general Charles De Gaulle.
O general De Gaulle conclama os franceses à resistir ao nazismo... |
Mas a grande mudança no
imaginário francês aconteceu depois da guerra - deixo de lado as causas econômicas e sociais desse fenômeno. De Gaulle acreditava na grandeur francesa e, para livrar a cara de seus compatriotas, forjou o mito de que todos
os franceses tinham sido da Resistência contra o regime de Vichy. Ele resgatou o orgulho nacional francês, mas, com isso a França deixou de viver a catarse dos pecados da extrema
direita – a xenofobia e a violência – como a Alemanha.
Resultado: na Argélia, o Exército colonial francês cometeu as maiores
barbaridades como se fosse a coisa mais natural do mundo. A extrema-direita
voltou a crescer na França a partir dos anos 1980. E até hoje, quando se toca o
dedo na ferida do colaboracionismo, a França mergulha num profundo mal-estar
civilizatório.
...mas muitos de seus compatriotas apoiaram Pétain |
Significativamente, os
herdeiros de Hitler e Mussolini também cresceram na Áustria, mas não na
Alemanha – país que foi militarmente arrasado e que teve que fazer mea culpa do
nazismo. Por isso, a extrema direita e os neonazistas quase nunca tiveram representação
do Bundenstag (Parlamento alemão) e as manifestações de violência xenófoba
sempre foram abertamente repudiadas pela opinião pública.
Resta saber que concessões
Hollande fará para conquistar os corações e mentes do eleitorado de Marine Le
Pen...
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