Há 30 anos, no dia 13 de dezembro de 1981, o general Wojciech Jaruzelsky, líder comunista da Polônia, baixou o Estado de Guerra, fechou o sindicato independente Solidariedade e prendeu milhares de oposicionistas. A Polônia vivia então tempos de agitação, com uma grave crise econômica e social que se arrastava desde os anos 1970. Menos repressivo do que seus congêneres do Leste europeu, o regime comunista polonês sofrera vários reveses desde sua implantação: em 1956, pressionada por manifestações populares, a linha-dura do PC teve que engolir o líder reformista Wladyslaw Gomulka; em 1970, a agitação operária afastou Gomulka, que deu lugar ao sindicalista Edward Gierek. Este, por sua vez, também cairia em desgraça dez anos depois, também por força de manifestações de trabalhadores. A classe operária polonesa vivia em estado de permanente indocilidade com o “Estado proletário”...
Jaruzelsky assumiu a direção do país no começo de 1981. No início, ele tentou estabelecer um diálogo com os líderes do Solidariedade – o primeiro sindicato independente do bloco soviético – e com a poderosa Igreja Católica polonesa (o papa, lembrem-se, era o polonês Karol Wojtyla). Mas a crise social não dava trégua, e os trabalhadores continuavam se manifestando e apresentando reivindicações. O temor de que o regime fosse emparedado era grande em Varsóvia e em Moscou.
Posteriormente, Jaruzelsky justificaria o golpe como uma prevenção a uma possível intervenção soviética na Polônia – como acontecera em 1956 na Hungria e em 1968 na Tchecoslováquia, quando tropas do Pacto de Varsóvia esmagaram tentativas de reformar o regime comunista. Mas Jaruzelsky não era obtuso e, quando veio o ambiente de abertura soviética (a perestroika e a glasnost de Mikhail Gorbatchóv) promoveria conversações com os líderes do Solidariedade, que levariam a eleições parcialmente livres e ao estabelecimento, em julho de 1989, do primeiro governo não-comunista num país do bloco soviético.
Apesar de desmentidos de autoridades soviéticas sobre uma invasão iminente da Polônia em 1981, pesquisas realizadas em 2001 mostraram que a maioria dos poloneses acreditava na versão de Jaruzelsky. Mesmo assim, seus concidadãos da geração do Solidariedade nunca o perdoaram. Muitos o consideram um traidor e comparam sua filosofia de “uma Polônia forte dentro do bloco soviético” à filosofia do colaboracionista Vidkun Quisling, que defendia um status similar para a Noruega dentro de uma Europa dominada pelos nazistas. Militar, Jaruzelsky, sempre dizia que não se pode brigar com a geografia. “Acho que a invasão da Tchecoslováquia foi uma decisão errada, mal-intencionada e contrária às normas internacionais, mas foi um reflexo das brutais realidades do mundo dividido daquela época”.
A história o julgará, para usar um clichê. Mas a mim o general Jaruzelsky está mais para um personagem trágico do que para um golpista com apetite de ditador...
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