De Karl Popper, filósofo hoje quase esquecido, uma poderosa crítica ao historicismo, a ideia de que a História é regida por leis de ferro e, por isso, podemos prever e planejar seu curso:
"Não se pode duvidar de que as filosofias historicistas de Hegel de de Marx sejam produtos característicos de sua época - uma época de mudança social. Como as filosofias de Heráclito e Platão, e como as de Comte e Mill, Lamarck e Darwin, são filosofias de mudanças, e dão testemunho da tremenda e sem dúvida um tanto terrífica impressão causada por um ambiente social em mutação nas mentes dos que vivem nesse ambientes. Platão reagiu a essa situação procurando paralisar qualquer mudança. Os filósofos sociais mais modernos parecem reagir muito diferentemente, pois aceitam a mudança e mesmo lhe dão boas vindas; contudo, esse amor pela mudança me parece um pouco ambivalente. De fato, ainda que hajam desistido de qualquer esperança de deter a mudança, tendem a predizê-la como historicistas e assim colocá-la sob controle racional; e isto, certamente, parece uma tentativa de domá-la. Assim, para o historicista, é como se a mudança não tivesse perdido inteiramente seus terrores."
Karl Popper (1902-1994) |
"Se pensarmos que a história progride, ou que estamos fadados a progredir, então cometemos o mesmo engano daqueles que crêem ter a história um significado que pode ser descoberto nela e não necessita ser-lhe dado. Progredir, com efeito, é mover-se para uma certa espécie de fim, para um fim que existe para nós como seres humanos. A "história" não pode fazer tal coisa; apenas nós, os indivíduos humanos, podemos fazê-lo. E podemos fazer defendendo e fortalecendo aquelas instituições democráticas que a liberdade e, com ela, o progresso, dependem. E muito melhor o faremos à medida que nos tornamos mais plenamente conscientes do fato de que o progresso repousa em nós, em nossa vigilância, e nossos esforços, na clareza da concepção que tenhamos de nossos fins e no realismo de sua escolha."
"Em vez de nos estadearmos como profetas, devemos tornar-nos os autores de nosso destino. Devemos aprender a fazer as coisas o melhor que pudermos e a encarar nossos enganos. E quando tivermos abandonado a ideia de que a história do poder será a nossa julgadora, quando tivermos desistido de nos afligir por indagar se a história nos justificará ou não, então talvez um dia possamos ter êxito em colocar o poder sob nosso domínio. Desse modo, poderemos mesmo, por nossa vez, justificar a história. Ela necessita desesperadamente dessa justificação."
Karl Popper, A Sociedade Aberta e seus Inimigos
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