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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

DÁ-LHE, TUIUIU!


Amaury Ribeiro Jr., o Tuiuiu repórter
 O livro do jornalista Amary Ribeiro Jr., A Privataria Tucana, já está entre os mais vendidos na Livraria da Folha, apenas três dias depois de ter sido lançado. Mas nem a Folha, nem o Estadão, nem o Globo deram uma mísera linha sobre o livro. Conheço o repórter de quando trabalhávamos na ISTOÉ. Seu apelido na redação era Tuiuiu, a ave símbolo do Pantanal, pelas origens matogrossenses e pela maneira enrolada de falar. Mas Amaury sempre foi o que no jargão jornalístico se chama de “perdigueiro”: tem um faro incrível para a notícia e o furo e, quando os agarra, não larga mais. O que está acontecendo com seu livro é um exemplo da diferença entre os conceitos de liberdade de imprensa – que, aqui no Brasil, significa sobretudo liberdade para os donos da mídia, como lembrava Cláudio Abramo – e a liberdade de expressão, um direito da cidadania nas sociedades verdadeiramente democráticas. A grande mídia sempre confunde os dois conceitos, principalmente quando se fala de impor mecanismos para quebrar a propriedade cruzada – leia-se o monopólio da informação concentrado em algumas famílias, coisa que nenhum país desenvolvido admite.


O tuiuiu ave propriamente dita
Como ainda não li o livro do Tuiuiu - aliás, ainda não consegui encontrá-lo em nenhuma livraria, seja porque ainda não chegou, seja porque já acabou - transcrevo uma análise de quem o leu, Jorge Furtado.

A “privataria tucana” e o silêncio da mídia

Do blog do Jorge Furtado


Terminei de ler o extraordinário trabalho jornalístico de Amaury Ribeiro Jr., “A Privataria Tucana” (Geração Editorial), o livro mais importante do ano. Para quem acompanha a vida política do país através de alguns blogs e da revista Carta Capital, não há grandes novidades além dos documentos que comprovam o que já se sabia: a privatização no Brasil, comandada pelo governo tucano, foi a maior roubalheira da história da República. O grande mérito do livro de Amaury é a síntese que faz da rapinagem, e a base factual de suas afirmações, amparadas em documentos, todos públicos. Como bom jornalista, Amaury economiza nos adjetivos e esbanja conhecimento sobre o seu tema: o mundo dos crimes financeiros.


A reportagem de Amaury esclarece em detalhes como os protagonistas da privataria tucana enriqueceram saqueando o país. De um lado, no governo, vendendo o patrimônio público a preço de banana. Do outro, no mercado, comprando as empresas e garantindo vida mansa aos netos. Entre as duas pontas, os lavadores de dinheiro, suas conexões com a mídia e com o mundo político.


Os personagens principais da maracutaia, fartamente documentada, são gente do alto tucanato: Ricardo Sérgio de Oliveira (senhor dos caminhos das offshores caribenhas, usadas pela turma para esquentar o dinheiro), Gregório Marin Preciado (sócio de José Serra), Alexandre Bourgeois (genro de José Serra), a filha de Serra, Verônica (cuja offshore caribenha, em sociedade com Verônica Dantas, lavou pelo menos US$ 5 milhões), o próprio José Serra e o indefectível Daniel Dantas. Mas o livro tem também informações comprometedoras sobre o comportamento de petistas (Ruy Falcão e Antonio Palocci), sobre Ricardo Teixeira e sobre vários jornalistas.

A quadrilha de privatas tucanos movimentou cerca de US$ 2,5 bilhões, há propinas comprovadas de US$ 20 milhões, dinheiro que não cabe em malas ou cuecas. O livro revela também o indiciamento de Verônica Serra por quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros e traz provas documentais de sua sociedade com Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas, do Banco Opportunity, numa offshore caribenha.


Alguns destaques do livro:


As imagens do Citco Building, em Tortola, Ilhas Virgens britânicas, gavetas recheadas de empresas offshore, "a grande lavanderia", pág. 43.


Sobre a pechincha da venda da Vale, na pág. 70.


Sobre o grande sucesso “No limite da irresponsabilidade”, na voz de Ricardo Sérgio., pág. 73.


Sobre o MTB Bank e sua turma de correntistas, empresários, traficantes e políticos de várias tendências, e a pizza gigante de dois sabores (meio petista, meio tucana) da CPI do Banestado, pág. 75.


Como a privatização tucana fez o governo (com o seu, meu dinheiro), pagar aos compradores do patrimônio público, pág.171.

A divertida sopa-de-nomes das empresas offshore, massarocas intencionais para despistar a polícia do dinheiro do crime, pág. 188.


Os grandes personagens do submundo da política, arapongas que trabalham a quem pague mais, pág. 245.


Um perfeito resumo do que realmente aconteceu na noite dos aloprados, no Hotel Ibis, em São Paulo, pág. 282.


Um retrato completo do modus operandi da mídia pró-Serra na eleição de 2010, a partir da pág. 295.


Outro resumo perfeito, do caso Lunus, quando a arapongagem serrista detonou a candidatura de Roseana Sarney, pág. 314.


Sobre parajornalistas que acabam entregando suas fontes e sobre fontes que confiam em parajornalistas, pág. 325.


Serra, o vampiro que não é de Dusseldorf
O índice remissivo e a quantidade de dados que o livro de Amaury apresenta já o tornaria uma peça obrigatória na biblioteca de quem pretende entender o Brasil. Mas A Privataria Tucana também lança um constrangedor holofote sobre a grande imprensa brasileira, gritamente pró-Serra, que é cúmplice, ao menos por omissão, da roubalheira que tornou o país mais pobre e alguns ricos ainda mais ricos. 988


Imagine você o que esta imprensa – que gasta dúzias de manchetes e longos programas de debate na televisão numa tapioca de R$ 8 ou em calúnias proferidas por criminosos conhecidos – diria se um filho de Lula, Dilma ou qualquer petista fosse réu em processo criminal de quebra de sigilo bancário. Segundo o livro de Amaury (e os documentos que ele traz) a filha de José Serra é ré em processo criminal por quebra de sigilo bancário. (p. 278)


O ensurdecedor silêncio dos grandes jornais e programas jornalísticos sobre o livro A privataria tucana é um daqueles momentos que nos faz sentir vergonha pelo outro. A imprensa, que não perde a chance – com razão – de exigir liberdade para informar, emudece quando a verdade contraria seus interesses empresariais e/ou o bom humor de seus grandes anunciantes. Onde estão as manchetes escandalosas, as charges de humor duvidoso, os editoriais inflamados sobre a moralidade pública?


Afinal, cadê o moralista que estava aqui?






Um comentário:

  1. O que a mídia conservadora omite a blogosfera progressista fartamente dissemina e esta sua matéria ficou muito boa.

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