O ex-ditador guatemalteco Efraín Ríos Montt |
Começou ontem o julgamento do
ex-ditador da Guatemala, general Efraín Ríos Montt, de 86 anos, que governou o
país entre 1982 e 1983. Ele é acusado pela morte de 1.771 indígenas no momento mais
tenebroso da guerra civil que durou 36 anos – de 1960 a 1996 – e deixou entre
200 mil e 250 mil mortos. Outro general, José Rodríguez, de 68 anos, também está
sendo julgado. Vejam só: nós nos chocamos – com justa razão – com as ditaduras da
Argentina e do Chile, que mataram, respectivamente, 30 mil e três mil pessoas. Mas
na Guatemala – um país hoje com 15 milhões de habitantes – foram mais de 200
mil mortos ou desaparecidos pela repressão e poucos se indignam. Talvez porque
as vítimas sejam indígenas.
Vala onde foram enterrados vários índios massacrados pelos militares e esquadrões da morte |
Não por acaso, a Guatemala
foi o primeiro país latino-americano em que a CIA patrocinou um golpe de
Estado: em 1954, os militares derrubaram o coronel reformista Jacobo Árbenz, eleito
democraticamente. Os americanos atribuíram aos comunistas o fato de Árbenz ter
expropriado as propriedades da norte-americana United Fruit para realizar uma ampla
reforma agrária. Depois do golpe, a Guatemala foi palco de sucessivos governos
militares e serviu de base para o treinamento de cinco mil cubanos anticastristas,
muitos dos quais participariam da frustrada invasão da Baia dos Porcos, em
1961. Começaram a surgir manifestações estudantis e, a seguir, grupos
guerrilheiros de esquerda. Enquanto os “Boinas verdes” norte-americanos
treinavam o Exército guatemalteco na arte da contrainsurgência, a extrema
direita formava esquadrões da morte como o Mão Branca e o Exército Secreto Anticomunista
para aterrorizar os camponeses. O genocídio foi tão explícito que em 1979 os
EUA suspenderam toda ajuda militar ao país.
Ríos Montt e Rodríguez são
apenas os primeiros militares da Guatemala a serem julgados por crime de lesa
humanidade. Melhor que nada, mas ainda faltam muitos militares, políticos e
empresários nos bancos dos réus.
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